Como se despedir de um anjo
Tive um dia triste nessa semana. O sobrinho de uma amiga, um bebê com alguns meses, faleceu após uma batalha com uma grave má formação cardíaca, que o levou a submeter-se a diversas cirurgias e intervenções, até esgotar-lhe as forças.
Apesar de acompanhar de longe o entrave, pude perceber a serenidade, a fé, a obstinação e a esperança com que seus pais, avós e tias enfrentaram essa luta. Observei também o quanto essa criança havia modificado as prioridades na vida de cada um deles. Nada mais era tão importante quanto a sua saúde, o seu sorriso, a sua doce presença entre eles.
Mas existem planos superiores que não são previamente combinados conosco e esse pequeno ser precisou partir antecipadamente, deixando uma saudade visível nos olhos de quem o conheceu.
Fui abraçar seus parentes enquanto ele estava sendo velado e imaginei encontrar muita dor e choros incontroláveis, o que seria muito compreensível diante daquela perda mas fui surpreendida por um sentimento tão forte que conseguia cobrir todos os outros como um manto de proteção.
Em meio às lágrimas saudosas havia um sentimento puro de ternura, de amor profundo por aquela criança, pelo que ela representa, pelos corações que ela transformou, pela história que ela escreveu no livro da vida de cada um que teve o privilégio de partilhar sua breve existência.
Dizem que as crianças são anjos que Deus nos envia para ajudar-nos a crescer. Quando a criança tem uma necessidade especial, essas lições são ainda mais preciosas pois testam nossa capacidade de doação, de entrega, de amar incondicionalmente.
O que fazer então quando os anjos partem, saem de nossas vidas batendo suas pequeninas asas, enquanto ficamos com a sensação de que esse vazio será eterno? O que fazer com nossa dor, com nossa saudade, com nossos porquês?
Infelizmente não tenho a resposta. Cada um tem a sua maneira de enfrentar suas perdas porém acredito que a corrente de amor da família e dos amigos é capaz de amenizar a tristeza, preenchendo as lacunas com carinho, afeto e cuidado.
É claro que de vez em quando vai bater aquela saudade e aqueles porquês começarão a borbulhar no nosso pensamento mas aí é preciso lembrar de que cada um tem a sua história e seu tempo, e é o modo como vivemos que imprime na vida o nosso legado.
Quanto maior a saudade, mais importante e querido é aquele que nos faz falta, tanto maior, pois, seja o carinho e o respeito pela sua memória e, em seu nome, continuemos escrevendo a história de sua vida através das lembranças.