Tempo de aprender
Minha filha mais nova, Gabriela, tem síndrome de Down. Ela frequenta a escola normal desde os três anos, a mesma até hoje. Ela precisa de outros acompanhamentos terapêuticos e, mesmo com tanta atividade, apesar dos seus oito anos, possui algumas dificuldades motoras e cognitivas decorrentes de sua deficiência. Cada dia é uma vitória.
Há poucos dias atrás, num sábado, a escola de Gabi realizou os jogos escolares. Os alunos menores participaram de pequenas tarefas tais como, passar engatinhando por dentro de grandes bambolês colocados em sequência, caminhar equilibrando-se em um pequeno muro, acertar uma bola numa cesta, acertar argolas nas garrafas e um mini golfe de cerca de três metros.
E lá se foi Gabi, passando por todas as etapas, em alguns momentos precisando de um pequeno auxílio mas cumprindo todas as tarefas. Quando chegou ao golfe, havia uma pequena fila, pois essa era a atividade que exigia mais coordenação. Consistia em colocar uma bolinha num buraco usando um taco de madeira, passando por alguns obstáculos. Todas as crianças demoravam um pouco devido à delicadeza e à precisão que o trabalho exigia. Quando eu vi como era, confesso que fiquei um pouco angustiada. Imaginei a dificuldade que Gabi teria em levar aquela bolinha até o seu lugar e comecei a imaginar o tempo que iria demorar para ela conseguir tal feito.
Mas eu estava ali era pra apoiar então preparei a máquina e comecei a filmar. Gabi subiu no campinho de golfe, pegou o taco e, tranquilamente, como a zombar da minha surpresa, em poucos segundos concluiu a tarefa.
Eu não sabia se ria ou chorava. Eu havia duvidado dela, da minha pequena atleta, ainda que por alguns instantes. Logo eu, que tanto acredito nela. Como eu fiquei feliz por ter aprendido mais essa lição: não subestimar a capacidade de alguém apenas por ter conhecimento de suas dificuldades.
Ela voltou para casa feliz com sua medalha pendurada no pescoço. Eu voltei para casa ciente de que não existem limites para a superação. Podemos fazer muito mais do que imaginamos se nosso pensamento se voltar para nossa atividade, se nossa vontade assim o desejar.
Hoje, ao buscá-la no acompanhamento pedagógico extra-escolar, vi-a lendo pequenas palavras. E a cada palavra que lia, ela olhava sorridente para mim, como a saber que realizava algo especial. Não sabe ela que especial é ela mesma e que as suas dificuldades me ensinam a lidar com as muitas que tenho. E assim vamos trocando nossas vivências e aprendendo juntas que o tempo perde a importância quando o objetivo é evoluir.