A alegria por eles...

                As preocupações 
                não nos deixam usufruir da felicidade.
                                                  Anselm Grün

     Comprei dois livros absolutamente iguais!
     Um fica comigo e o outro darei a uma amiga que cultiva e cultua a boa leitura.
     Na cabeceira de sua cama, ela tem sempre um ou mais livros de plantão. Geralmente adormece com um deles lhe acariciando os seios pequenos e túrgidos.
     Será o seu presente da Natal.
      Melhor do que um estrato francês ou uma lavanda qualquer, cujo perfume, com o tempo tende a desaparecer.
     O livro fica para sempre.

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     Por falar em presente, durante esta semana entrei em algumas lojas para ver as novidades. O Natal tá chegando.
     Muito cedo? É provável. Mas antecipo minhas compras porque detesto os Shoppings natalinos.
     E tenho minhas razões que, com certeza, não devem coincidir com as dos leitores. 
     Por exemplo: em cada vitrine, há um Papai Noel. Quase todos dançando ao som daquela musiquinha muito chata - na-na-na-na! na-na-na-na! - lembrando e louvando a grande data da cristandade. Mas enche!
     Creio, piamente, que o Recém-nascido, de tanto ouvir essa cantiguinha natalina, terminará acometido de uma daquelas inquietantes insônias.

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     Ontem, deparei-me com um Papai Noel que achei uma gracinha. Não tinha barriga. Era esquelético, barba rala e de óculos escuros. Um Papai Noel esquisito.
     Muito diferente dos papais noeis tradicionais: um velhinho de sorriso arranjado, obeso, ou quase isso, óculos na ponta do nariz, distribuindo simpatia forçada e apontando para as lojas.
     Noutro Shopping, imaginem só, dois ursos fantasiados de Papai Noel chamavam a atenção dos ocupados e dos, como eu, literalmente desocupados.
     Parei diante deles, e pensei: certamente o velhinho da Lapônia não ficará nada satisfeito vendo-se, no Natal, representado por dois ursinhos.
     E com razão. Os ursos - não sei se justa ou injustamente - carregam a fama de serem falsos, a partir de uma fábula de La Fontaine.
     Com efeito, um abraço de um amigo urso , ai, ai, não é nada confortável. E Noel vive a abraçar as criancinhas que pensam que ele existe.

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     Escrevendo tudo isso e de olho no livro que, como disse, acabara de comprar.
     Tomo-o, então, com carinho em minhas mãos, sento-me na minha rede vermelha com varandas brancas, e como diz o mestre Rubem Alves, entro "na bolha que a leitura cria".
     Sim, é preciso fugir por alguns instantes do mundo para absorver inteiramente cada capítulo, cada parágrafo, cada linha, de "Deixe as Preocupações de Lado e Viva em Harmonia", um livro do monge beneditino Anselm Grün.

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     Muito bem. Nesse livrinho ( livrinho porque ele é bem pequeno, cabe no bolso) há um capítulo com este título: Listas de alegrias.
     Nele, Grün insere as listas de alegrias elaboradas por três consagrados intelectuais: Fernando Pessoa, Bert Brecht e Johann Wolfgang von Goethe. E sobre elas tece magníficos e sábios comentários.

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     Fernando Pessoa, no seu "Livro da Inquietação", desejava, diz o beneditino: "Nada mais que.../Um pouco de sol/Uma pequena lufada de ar,/Algumas árvores que/ Emolduram a distância,/O desejo de ser feliz..."
     Para Bert bastava: "Tomar um banho de chuveiro, nadar,/ Música antiga/ Sapatos confortáveis./Entender./Música nova./ Escrever, plantar./ Viajar. / Cantar. / Ser gentil."
     Para Wolfgang Goethe: "Deveríamos, todos os dias,/ Pelo menos ouvir uma pequena canção,/ Ler um bom poema,/Ver uma bela pintura e,/ Se possível,/ Dizer algumas palavras sensatas."

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     Observe o inteligente leitor, que não é lá tão difícil ser alegre. As receitas de Fernando Pessoa, Brecht e Goethe, de uma simplicidade impressionante, mostram como se pode ser feliz, sem maiores rodeios.
     No Natal, dê aos seus amigos, e até ao seu maior desafeto o livro do monge Anselm Grün. 
     E mais: "Deixe as Preocupações de lado e Viva em Harmonia", como ensina este ilustre filho de São Bento.
     De repente é isso que, de fato, se deseja, no nosso dia a dia. 
     Afinal, garante Anselm Grün, "A vida é agora".
     
     
     

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/11/2011
Reeditado em 16/04/2022
Código do texto: T3343470
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