Da boa ideia, boa crônica

       Os versos de Jomar Souto o consagraram como o poeta que melhor retratou a nossa cidade; consagrados também ficaram os logradouros patrimoniais da nossa João Pessoa na poesia de Jomar. Pelo mesmo caminho, Gonzaga Rodrigues fez e se fez com suas crônicas. Quando cotejado a outros grandes cronistas do que são sobejas as nossas imprensa e literatura, a exemplo de Crispim e Francisco Pereira Nobrega, ele se destaca como quem tivesse incorporado a alma do povo, o seu modo de observar, a sua coloquial linguagem, a nossa memória, e a beleza de imagens que usa ao escrever, que, nos seus textos, dão às nossas quotidianas leituras renovado sabor.

       Gonzaga também conhece como ninguém a vida e os costumes da cidade. Vez ou outra, ele me lembra Damásio Franca, com a caderneta na mão, anotando os buracos, as flores sem água nos jardins,  as lâmpadas queimadas, os bancos quebrados das nossas praças e as necessidades de cada rua. Por isso, Gonzaga sabe até onde há livros maltratados, nas bibliotecas públicas, e reclama a saúde desses escritos. Recordo-me de que, quando assumi a Presidência da Funesc, no segundo dia dessa gestão (de 1999 a 2003), Gonzaga me levou à imensa Biblioteca do Espaço Cultural, para se queixar sobre o acervo dos jornais que jazia num canto de parede...

       Gonzaga não só se sente responsável pelas bibliotecas, mas, sobretudo pelo nosso patrimônio, que caracteriza João Pessoa a ser João Pessoa. Ele tem razão: toda cidade para ser aquela cidade deve ter uma cara que a personifica. Ao contrário disso, a cobiça imobiliária, em vez de construir em outros espaços, pretende fazê-lo em cima do histórico, apagando a memória. Quando não o derruba, descaracteriza, como numa cirurgia plástica, cisalha a cara da cidade, tornando irreconhecível a fisionomia da terceira cidade mais antiga do país. Desse contexto, guardo a recente crônica de Gonzaga “Ipase: uma boa ideia”, em que ele, seguindo anteriores apelos de Abelardo Jurema, nosso e de Gerardo Rabello, em nome dos que desejam o restauro do Centro Histórico, pede ao nosso Poder Legislativo, constituinte indispensável da Praça João Pessoa, também chamada por Ernani Sátyro e pelo povo de Praça dos Três Poderes, que use do direito de expandir a AL, não para a praia, mas ocupando o vazio prédio modernista do IPASE que, no momento, enfeia o Ponto de Cem Réis.  Feito isso, os deputados escutariam a vontade corrente dos eleitores, propiciariam aos que fazem a Assembleia Legislativa um inesquecível “Dia do Fico” e beneficiariam, com reconhecimento da cidade, à sempre desejada revitalização do Centro Histórico.