"O VAZIO DA SAUDADE" Crônica de: Flávio Cavalcante

O VAZIO DA SAUDADE

Crônica de:

Flávio Cavalcante

Sabe aquela sensação de procurar algo e não encontrar? Aquela sensação de que perdemos alguma coisa e não temos a mínima chance de um recuperação? Eu amanheci assim dia 12 de novembro. É que nesta data se comemora o aniversário de nascimento da minha saudosa mãe. Exatamente neste dia todos os anos, toda a família se reunia lá em casa para aquela deliciosa farra. E olha que era farra mesmo. Não é me gabando não, mas, a união da minha família pouco se vir por aí. Eles comemoram, aliás comemoravam até aniversário de botijão de gás.

O caro leitor deve ta se pergunto que história é essa de comemorar aniversário de botijão de gás? Foi uma forma de expressar o motivo da farra em proll da reunião familiar. Mas isso foi realmente um fato. Aconteceu uma farra assim na casa de um primo meu em Maceió que morava só e como ele usava o fogão muito pouco porque sempre fazia suas refeições fora de casa, o botijão dele acabava fazendo aniversário e para não perder o humor, uma façanha dessa era motivo de comemoração e muita alegria.

Minha saudosa mãe sempre foi a máquina central que puxava todos os vagões; a alegria dela sempre foi contagiante e não perdia por nada uma oportunidade dessas de reunir a Família.

Há dois anos atrás essa matriarca fizera seu último aniversário. Dia 12 de novembro de 2009, como todos os anos repetiam-se aquela farra e nem passava pela sua cabeça que seria o último aniversário de sua vida. No dia seguinte, depois de toda alegria daquela radiante família. Todos costumavam se reunir para o almoço em Família e isto se tratava de algo comum. Neste ano estavam combinando a festa do natal, que todos iam se reunir na casa da matriarca para fazer aquela farra, já que ela queria inaugurar a reforma da casa que ficou simplesmente linda e do jeito que ela planejou.

Na noite do natal, meu cunhado preparou tudo na parte de som e luz, instalado na imensa garagem da casa e todos se divertiram muito. Segundo minha irmã, ela brincou a noite toda. A família estava toda reunida. Beberam e brincaram muito. Disseram-me que a alegria dela era contagiante. E em meio á festa resolveram entregar os presente do amigo oculto, tradição de todos os anos. Ela tirou como amiga oculta a mulher de um dos meus primos, que faleceu dois meses depois de sua morte. E segundo algumas pessoas da família, ela não se conteve e pegou o microfone, e falou mensagens emocionantes, coisas que ela nunca havia feito isso. Agradeceu a Deus os filhos que ela tinha. Os genros e a família. Parecia uma despedida. Ela faleceu dia 27 de dezembro de 2009.

No dia do seu aniversário este ano, fez 2 anos do seu traspasse. Isso quer dizer que ela faria 64 anos de vida. O meu pai entrou num processo de saudade incrível. Parecia não ver mais sentido na vida dele depois da partida de sua amada. A cada dia víamos que ele estava superando. Isso externamente falando; mas, na realidade por dentro, ele estava se corroendo. A saudade bateu de forma mansa, como um mar de águas calmas, mas bravias em suas profundezas. Ele nunca deixou a casa depois do triste acontecido. E desde o primeiro dia continuou na casa, dormindo na mesma cama onde ele sempre dormiu com ela. Segundo ele, passou meses sentindo o cheiro do perfume dela, na hora em que ela foi pro hospital. E o processo natural começou á fazer a sua parte. O velho pai e amigo começou a definhar a cada dia, mas sempre se fazendo forte.

O velho maluco assim como ele se denominou aqui no recanto das letras e muitos amigos adquiridos aqui nesse cantinho aconchegante já o liam com freqüência, descobriu depois de um ano e um mês do falecimento da matriarca um incômodo no abdômen e foi ao médico, que pediu imediatamente um exame minucioso, pois, só o exame simples que ele fez de emergência já estava acusando a seriedade do problema. Ele apenas queria ter a certeza. E aí foi que a mudança geral na vida da família estava preste a acontecer. Ele teve um câncer generalizado no pâncreas e já não tinha mais o fígado, o único rim de nascença já não existia e os outros órgãos estavam comprometidos. Ele faleceu com menos de uma semana depois do resultado dos exames.

FATO CURIOSO

Minha família sempre teve uma aptidão pela filosofia espírita. Um dia antes do traspasse do meu pai, minha irmã, ligou para o centro espírita de doutor Bezerra de Menezes em São Paulo. O médium confirmou a presença da médico no hospital e pediu que fizesse a oração que o mesmo havia passado por email, pondo um copo com água para a fluidificação e depois tinha que dar a água para ele beber. Poucos antes da hora prevista para a visita do doutor Bezerra, meu pai falou que viu dois médicos do lado dele. Um deles estava todo de branco e suas vestes eram bem antigas. Resumindo, duas horas depois da presença do doutor Bezerra de Menezes, meu pai deu adeus ao mundo, deixando todos os médicos do hospital perplexos com a rapidez do seu traspasse e de forma tranqüila e natural; pois, meu pai deixou o seu corpo, praticamente conversando com a minha irmã. Imaginei que Deus aliviou seu sofrimento, pesando em sua balança o grande homem que ele foi.

Hoje concluo que o vazio da saudade é uma doença crônica que age caladinha e vai matando aos poucos; até a destruição total do ser. Se a saudade fosse uma coisa boa ninguém queria matá-la. Hoje ela permanece no dia a dia da família, mas, é amenizada pelos momentos maravilhosos que um dia passamos juntos e que carregamos dentro do nosso baú, lembranças lindas que vamos levar para toda a eternidade.

LUIZ DE SOUZA – O VELHO MALUCO – FALECEU EM 27 DE JANEIRO DE 2011

DE ALGUMA FORMA, SEJAM ASSASINOS DA SAUDADE...

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 18/11/2011
Código do texto: T3342088
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.