Roubaram-me os espelhos

Roubaram-me os espelhos.

Roubaram-me os espelhos. E isso não é uma metáfora. Nem da vida. Nem da matéria. Roubaram-me os espelhos. Três. Moldura de bronze. Não tão cara, mas cara em mim. Por isso dói. Dói-me no corpo. No estômago. Na mente. Estranhamente, dói-me nos pés. E nas mãos. Uma dor-dormente. Que me trava. Que me consome. Que me pergunta. E eu que endeuso questionamentos. De repente, passo a questionar esse meu gostar. Queria a simplicidade de meus espelhos. Na entrada de minha casa. No meio da sala. Nos corredores. Em meu quarto. E arredores. Refletindo qualquer coisa. O feio. O sagrado. O obscuro. O claro. O tédio. A alegria. A raiva. O nada. Até um sonho. Mas roubaram-me.

Reclamei.

E entre o reclame e o ponto final, as perguntas. Odeio-as todas.

(Adriana Luz - 17 de novembro de 2011)