Sobre o povo e o Lula
Sobre o povo e o Lula
Nunca fui uma pessoa muito envolvida com política, mas me considero bem politizada. Admiro os grandes políticos de nosso país, aqueles que levam a sério o papel que cumprem como representantes do povo, e que realmente trabalham para minimizar o sofrimento e a miséria que ainda assola uma parcela muito grande desse nosso povo. Seja de que partido for, admiro e aplaudo as ações que resgatam a dignidade, defendem direitos e fazem com que o nome do Brasil seja visto com mais respeito no resto do mundo. Entre esses que admiro, logicamente está o Lula, tanto pelo seu papel na política interna e externa, quanto pela sua lição de vida para todo ser humano, mostrando que sonhar e lutar pelos nossos sonhos, vale a pena. Um retirante nordestino, fugindo da fome e da seca que antes massacrava o povo do nordeste, que vem para a cidade grande, a terra prometida que naquele tempo era São Paulo e chega a se tornar presidente, deve ter sido caso único no mundo. Um semi-analfabeto, que se fez líder sindical no ABC Paulista, soube se colocar à frente do poder para reivindicar direitos e melhorias para a classe trabalhadora, que foi preso, ameaçado e perseguido politicamente, sem jamais desistir de seus sonhos, só pode ser um homem feito com uma fibra diferente. Lembro-me bem da campanha política onde tinha o Collor como adversário. Ainda hoje me recordo da altivez do nobre candidato, tão rico e tão culto na sua formação acadêmica, com todo um aparato criado pela mídia alagoana de caçador de marajás, o príncipe do Planalto, num debate onde usou de todos os recursos para humilhar e rebaixar o seu adversário pela sua humildade e pobreza de berço e história. Venceu o representante da elite e deu no que deu. Não só os pobres, mas também os ricos caíram no conto do vigário, e o Brasil viveu um retrocesso histórico e econômico, cujos prejuízos ainda pagamos até hoje. Depois vieram outros, também da mesma linhagem, e novamente a preocupação com o crescimento do país se detinha nas grandes riquezas, na privatização dos bens públicos, que a incompetência governamental era incapaz de administrar. Venderam fontes de renda e riquezas de nossa terra a preço de banana, mas pelo menos, evoluímos um pouco em tecnologia e qualidade de serviços, porque passamos a dividir o nosso crescimento com o capital estrangeiro. Depois veio o Lula, candidato da esperança daquele povo esquecido, pois este não entrava na prioridade dos grandes investimentos. E sua política de erradicar a pobreza finalmente começou a dar os primeiros passos. Claro que nem todos deram certo de cara, porque a carência era muita e o país dos pobres era grande demais. Mas começou. E achou o passo e o compasso, para que muita coisa mudasse o rumo de nossa gente. Hoje pobre faz faculdade, come bem, tem emprego, tem dignidade. O PIB cresceu, apesar dos baques sofridos com as crises mundiais e o Brasil passou a ser apontado como exemplo de política forte, estado de direito onde os projetos sociais foram copiados por muitos governos estrangeiros. A política de Lula foi admirada pelo mundo inteiro. E no entanto, tem muita gente com venda nos olhos, com a memória muito curta para comparar e enxergar o quanto nosso país cresceu nesses oito anos de governo desse homem simples, cujo único defeito talvez seja não ter herança política como os nossos outros governantes, que se valiam do coronelismo e do sobrenome para perpetuar o cabresto eleitoral. Lula se fez por si mesmo. E agora, no descanso de final da batalha, vem essa doença cruel para desequilibrar o seu merecido descanso. Isso não me revolta, faz parte da vida, muitos são vítimas dessa doença. Mas o que me revolta, é que vejo gente que tem coragem de aplaudir e vibrar com o sofrimento desse homem que deu a vida para tentar melhorar a vida dos outros. A esses eu peço que estudem um pouco a história de seu país, que não olhem apenas a ponta do nariz, como fizeram muitos empresários e fazendeiros temerosos de saírem prejudicados com a eleição de um homem do povo. Um homem que fala errado, que usa analogias simples para expor idéias, mas que merece respeito, não porque está doente, mas pela grandeza de um ser humano politizado pelo sofrimento e político reconhecido mundialmente por merecimento.