A DIGNIDADE DO PERDÃO

 

A teus pés, ---hoje me lembro, --- ajoelhei um dia. Humilde, vencido, cordato, buscava redimir-me da culpa banal que  há tempos cometera. No entanto, o desengano cruel  que me submeteste, prostrou-me,  arrastando-me às celas frias e opressivas do infortúnio. Amargurado, caí em choro impiedoso, indo às raias da loucura.

Mulher! Sabias que eu sofria e contentavas castigar-me. Fazia-me tomar, com tamanha naturalidade, o fel imorredouro da derrota.  Abusavas sobremaneira de teu porte, da tua beleza, dos teus meios insensíveis para  provocar-me a dor.  Ontem eu chorei, é verdade, mas aprendi. Devassei os teus sonhos e conquistei tuas ambições, trazendo, assim, a paz e a harmonia ao meu espírito dócil que, quando clamava por compreensão  encontrava a ignorância bruta; que pedia respeito e recebia o escárnio; que suplicava por confiança e merecia olhares de desprezo. Sofri não nego, muito sofri.

Hoje, engraçado, passado tão pouco tempo, coloca-te a meus pés suplicando perdão e  amor. Olho-te compadecido.  Não me sinto juiz,  sim, mero réu a julgar a si próprio!  Eis, à minha  lembrança, o perdão que eu buscava sedento a teus pés causar-me  introversão violenta, arrebatando-me!  Tomo o teu lugar! E dono convicto da consciência dos justos, seguro tuas mãos frias aquecendo-as junto às minhas. É um momento de  particular emoção e sensibilidade.  Revanchistas, as mágoas da humilhação passada e a euforia presente da vingança gritam histéricas aos meus ouvidos, fazem côro pela condenação merecida, mas, mirando-a determinada nos olhos, supero-as e absolvo-me também.

“Estás perdoada!”