OS PODERES DAS PALAVRAS.

OS PODERES DAS PALAVRAS.*

A sessão da Câmara terminou em tumulto, dois vereadores foram para o ataque físico, entrou a turma do “deixa disso” e aos poucos os ânimos se acalmaram. As explicações eram variadas, mas ali naquele momento ninguém sabia que caíram na armadilha de uma palavra. Eu explico.

As palavras me encantam, acho que as letras foram e serão sempre a maior invenção da humanidade, o alfabeto é que permite o desenvolvimento de todas as ciências e de todas as manifestações humansa. As letras formam palavras e estas tem som que os poetas usam para criar suas rimas, tem significados que permitem ao apaixonado transmitir seus sentimentos, tem duplo sentido que faz a gente ficar confuso e muitas vezes tentamos consertar o mal uso com a famosa frase “não foi isso que eu quis dizer”. Infelizmente também existem palavras que são armadilhas, aquelas das letrinhas miúdas nos contratos são o maior perigo. Outras palavras que já deram muita dor de cabeça são aquelas pronunciadas no auge de uma relação sexual, quando os sentimentos abafam a razão, mas nesses casos existe um remédio que aprendi faz muito tempo. È do veneno da cobra que se faz o antídoto e também é com palavras bem colocadas que se concertam as ditas em momentos de fraqueza psicológica e a solução para um exagero comprometedor é simplesmente ao terminar a relação sexual pronunciar essas palavras mágicas “retiro tudo que disse”.

Bem vamos ao caso da briga entre vereadores. Moro em cidade pequena e nesses locais a política nos envolve e compromete, atinge nossa vida diretamente e por causa disso é vivenciada com evidencia. Insultos, ofensas à dignidade da pessoa ou da família, agressões, vinganças baratas tudo faz parte do dia a dia da política local, mas o que mais se procura é poder processar alguém que nos tenha vitimado, é uma maneira de se usar os poderes públicos a nosso favor. Como gosto de palavras, gosto de dicionário, e ali encontro minhas ferramentas. Em uma oportunidade achei a palavra “afanoso” que significa quem tem afã, quem quer fazer mais do que pode e etc, mas me pareceu que o sentido lógico da palavra seria uma variação de afanar, roubar.

Perguntei a varias pessoas o que seria um sujeito afanoso e todos foram unânimes em afirmar que é um ladrão. Era o que eu precisava. Mandei uma carta à Câmara Municipal e no texto eu chamava o prefeito, meu adversário político de afanoso. Fui assistir à sessão curioso sobre os resultados. O primeiro secretario era da situação e ao ver a carta a retirou da pauta, ação percebida por um vereador da oposição. O documento foi exigido em plenário e lido. O primeiro secretario acusou o colega de ter sido deselegante e ouviu como resposta que ele como secretario não tinha o poder de retirar documentos da pauta e que não passava de um sem vergonha cara de pau. Daí em diante as coisas pioraram até virar agressão física. O tumulto envolveu todos os presentes menos eu que fiquei sentado na ultima cadeira observando o poder das palavras e o risco da ignorância. O vereador da situação saiu da sessão como vitorioso, afinal ele tinha em mãos um documento em que eu acusava publicamente o prefeito de ser ladrão e isso era um troféu. O documento foi encaminhado ao departamento jurídico para inicio de processo de calunia e difamação, mas veio com a observação de que não houve ofensa ao prefeito e sim um elogio, pois o documento afirmava que o prefeito queria fazer mais do que podia. Precisamos ficar atentos.

danilos
Enviado por danilos em 17/11/2011
Código do texto: T3340493