Minha Avó
Minha avó, no auge de sua extrema sabedoria, moradora da vila rocha, pelos pantanais de cruz alta, em seus oitenta e tantos anos, anda de mal comigo. Esbraveja como nunca! Mandou-me uma carta me insultando, vejam:
“já vou te avisando, essa cartinha aqui não é pra te pedir dinheiro, pode ficar tranquilo. É o seguinte, meu bastardo neto!: larga dessa tua vida quadrada, careta e mete as fuças no mundo. Sai por aí, a beber wisk pelos bares que avistar e faz logo uma tatuagem neste teu braço branco, sem cor, que não pega sol há anos. Faz um dragão que tá na moda. Dá um jeito nesse cabelo, até sugiro um corte moicano, estilo Neymar (esse garoto é o que há). Vê se pára de trabalhar um pouco e aproveita essa tua vida medíocre. Não vê eu, estou com oitentinha e ainda dou um belo caldo. Você parece um velho! Muda também estes teus textos, são muito sérios, sem graça. Aliás, quem lê? Quem se interessa por artigos que tu diz ser científico? Dá uma David Coimbra. Começa a escrever sobre mulher e futebol. Tu só pensa em trabalhar, trabalhar e trabalhar. E as músicas que tu escuta!? Passa a escutar Metalica. Essa coisarada de MPB é pra boi dormir, não tá com nada! Compra umas calças vermelhas apertadas e um óculos escuros e toma umas balas, dá uma doidura que só vendo. Bom guri, se endireita, não aguento mais essa tua cara cansada.”
É, a vida realmente é uma piada.