O itabirano que idealizou a Vila Izabel de Noel Rosa
Quando se fala de Drummond imediatamente é relacionada à figura do célebre poeta e escritor Carlos Drummond de Andrade um dos mais conhecidos filho da terra, mas, outro Drummond também fez história aqui.
Quem já ouviu falar de João Batista Viana Drummond, o Barão de Drummond?
Ele também foi um filho ilustre nesta cidade do Mato Dentro. Pois é! Por determinação de Dom Pedro II, ele foi condecorado com a Ordem da Rosa e se tornou Barão em 19 de agosto de 1888.
De Carlos Drummond de Andrade, transcrito do Jornal do Brasil de 1º de maio de 1975:
Na íngreme Rua de Santana, de Itabira, onde nasceu em primeiro de maio de 1825, o garoto João Batista, filho. De João Batista e de Maria do Carmo, ficou sendo, para toda gente, o Batistinha. Mas o diminutivo não lhe conviria no decorrer do tempo, e ao morrer no Rio de Janeiro em sete de Agosto de 1897, era Barão.
Entre uma data ou outra, João Batista fez coisas, muitas e determinadas de outras coisas, que influíram na vida de uma cidade, do Rio, e até no país. Não foi à toa que se ligou ao Mauá, em empreendimento como a estrada de ferro hoje chamada Central do Brasil. Seu espírito ávido de criação afastou-o cedo da Rua Santana e do pequeno meio paroquial, levando-o a Capital do Império. Na Corte, João Batista sentiu-se a vontade para planejar, fazer e acontecer.
Fez um bairro inteiro, onde havia o matagal da Fazenda do Macaco e onde hoje se refugiam os últimos traços do espírito genuinamente carioca: Vila Isabel. Abriu nele uma larga avenida, antecipadora das modernas vias de circulação urbana. E para que a vida nesse bairro não fosse uma sucessão escura de bocejos, presenteou-o com um parque de 300 mil metros quadrados, onde plantas e animais nativos e exóticos poderiam ser apreciados e se fariam estudos práticos de zoologia e zootécnica.
A certa altura, o jardim zoológico dava prejuízo. Teve que requer a ilustríssima Câmara Municipal (por que não são mais ilustríssimas é uma pena?) licença para estabelecer lá dentro jogos públicos sob fiscalização policial, a fim de honrar as despesas com a manutenção e desenvolvimento da iniciativa, nasceu ai o jogo do bicho, instituição nacional, trazida por um mexicano um tal Zevada, a principio mero atrativo para a freqüência do Zôo. Mas a coisa era tão bem bolada que acabou se espalhando fora dos portões do estabelecimento, e hoje cobre o país inteiro. João Batista não tem culpa nisso. Talvez seja mais correto dizer: Não tem glória nisso. Pois enfim, o jogo do bicho, rotulado de contravenção penal, é tão querido do povo e tão radicado como habito brasileiro, que o Governo se apresenta para oficializá-lo, sob o título de Zooteca. (Tirando-lhe possivelmente o encanto do jogo espontâneo, livre, baseado na confiança que inspirem banqueiros e bicheiros).
Todos os biógrafos de João Batista fazem questão de lembrar que ele não foi banqueiro de bicho nem inventor desse jogo imaginoso. Certíssimo. Mas se fosse o inventor, que mal haveria nisso? A inteligência criadora não precisa arrepender-se de uma concepção que dá alegria, dinheiro, e esperança a muita gente, e que não é responsável pelos crimes derivados pela sua prática. Vamos amaldiçoar o vinho, vamos proibir a uva porque muitos bêbados se arruinaram e às suas famílias? Crimes e erros cometem-se à margem de qualquer instituição, respeitáveis ou anódinas, e não bastam para condená-las; elas devem ser julgadas em si. O jogo inocente, que conquistou a simpatia de toda população, merece pelo menos indulgência, em vez de ser julgado por um moralismo hipócrita, cuja defesa se associam veladamente à sua exploração.
Mas deixamos de lado os bichos do Barão, hoje espalhados sobre o território pátrio. João foi também partidário da Abolição, e deu exemplo em casa, alforriando os seus escravos.
Desculpem-me a modéstia de lembrar que hoje o meu ilustre primo-longe João Batista Viana Drummond, fundador da Vila Isabel de Noel Rosa e Marque Rabelo, está completando, lá no sem fim, 150 anos de nascimento. Ter um primo Barão cutuca a vaidade do clã. Os velhinhos da Rua de Santana se fossem eternos, esta hora estariam exclamando, embevecidos:
-Sim Senhor Batistinha, hein? Como subiu!