E SEGUE AGORA COM MAIS RAPIDEZ

“Eu nunca vou entender porque continuo voltando para casa, quando na verdade gostaria de estar longe. Longe de tudo”. Ela sabe que esse pensamento nunca seria posto em prática. Ela não é dessas de tomar atitudes resolutivas, pensa mais do que age.

Caminha pela praia pisando com força na areia molhada, quer deixar suas pegadas e olhar uma vez ou outra para trás como se isso simbolizasse os seus erros ficando para trás. Finca com força as novas pegadas para selar um futuro melhor.

Sente a água fria em seus pés, as ondinhas vindo uma após a outra. Como um dia após o outro em sua vida: sempre frio.

Mas gostaria de ser diferente desta vez ao caminhar pela praia. Coloca um fone no ouvido, ouve músicas de que gosta (ouvir música é sempre bom, apaixona a alma), caminha sem pensar em nada específico. Só caminha.

Observa as pessoas que por ela passa. Não quer observar, mas é da sua natureza ser despertada por algum detalhe que para outras pessoas não significa nada, mas faz desviar atenção sobre sua vida.

O dia está ensolarado nada significativo para ela. Sol, chuva, noite dia tudo se resume nas características de um dia. O mais importante é o que acontece nesse dia. E esse dia nada de importante vai acontecer porque ela decidiu não se importar com nada hoje.

Pode aparecer algum problema que será resolvido. Será resolvido sem alterações, sem gritos, sem medos, sem nada que possa tirá-la desta paz que sente agora. “Simplesmente resolvi estar bem hoje, e isso me importa muito. Nada me fará tirar dessa paz.”

Para um pouco de andar, sentiu-se cansada. A areia pesa muito nos pés além de agarrarem a ele."É fácil de tirar. Não as quero em mim.”

Algumas coisas são fáceis de nos livrarmos, por mais agarradas que pareçam ainda podemos nos livrar. Um móvel velho que já não serve para nada a não ser de alimento para os cupins, uma roupa que já está tão gasta que nem serve para pano de chão, um anel grande demais, uma televisão em preto e branco, tantas coisas que podemos abrir mão e às vezes não fazemos. Temos medo de nos livrar deles como se perdêssemos parte de nós. Então guardamos, amontoamos em nossa casa que cada vez mais se entope de coisas inúteis.

Assim são os nossos sentimentos, guardamos coisas que só nos fazem infelizes, são difíceis de nos livrar. Não vai ser andando pela praia que eles sairão, mas sairão algum dia. Ou talvez caiam no esquecimento. Somos bons nisso: esquecer.

Pensando agora nas coisas que de repente vieram à tona em sua mente, que estavam esquecidas, como o período que havia começado a estudar mandarim. É difícil. requer muita vontade para aprender. Desistiu alguns meses depois, e aos poucos foi esquecendo o que havia aprendido. Só lhe restaram três palavras: bom dia , boa tarde, boa noite.

“Acho que essas três palavras são necessárias para manter contato suficiente com alguém, alguma coisa além disso será um detonador para futuras brigas, aborrecimentos, isolamentos e decepções. Só essas palavras bastam para mim.”

E segue agora com mais rapidez pela areia.

katialimma
Enviado por katialimma em 16/11/2011
Código do texto: T3338522
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