Contribuição dos Jesuítas
Em meu sangue não corre apenas o sangue dos meus pais. Corre uma praia cheia de belezas naturais. Correm índios e brancos conversando e trocando objetos. Corre, em seguida, o sangue dos mesmos índios sendo pisoteados e lançados fora como se fossem animais. Corre a miscigenação, e o nascimento de uma terra do "faz de conta que não creio em ti".
Em meu sangue, correm canhões estilhaçando ocas europeias. Corre uma terra que foi tomada por mim mesmo, sem nem menos eu ter pisado nela. Correm os Holandeses. Corre o protestantismo dos Holandeses. Corre a intolerância do branco sobre o negro. Corre o escravo massacrado de cara carrancuda e corpo jovem. Amém, os Holandeses foram embora!
Em meu sangue corre uma roça imensa de cana-de-açúcar, café e ouro. Corre uma biodiversidade em extinção. E, um pouco mais de índios mortos porque ninguém é de ferro, não é?
Em meu sangue correm revoluções febris e tenebrosas... Bum! Senti uma dor cardíaca neste momento.
Em meu sangue corre a ideia de um Brasil estatístico que não se preocupa em qualidade, mas em poder. Em meu sangue corre ignorância, desapego, comodismo e um pouquinho de gordura e açúcar. Me preocupo em resolver as três primeiras características, a saúde, hoje em dia, não tem capacidade de cuidar das duas últimas, estou errado?
Ahhh... Jesuítas! Quem dera vocês tivessem continuado com o trabalho árduo e lúdico de educar este Brasil. Enganados pelo próprio Reino e Igreja, o abandono fora seu próprio destino. Em meu sangue, ainda pulsa abandono, desprezo, inutilidade e manipulação.
Em meu sangue, ainda corre um jesuíta...