Recado de Mamãe Terra
É muita presunção idealizar o recado, que a mãe de todas as mães quer enviar aos representantes do mais desenvolvido de seus reinos.
Mas, é inerente à atividade de escrever, a presunção...
Entretanto, foi necessário espécie de meditação, para ouvir seus clamores calcados em bondosa preocupação com a possibilidade de a julgarmos vingativa .
Ouvi no murmúrio dum riacho que: assim como nós não controlamos as batidas de nossos corações e série de outros processos orgânicos, os quais acontecem independentemente de nossa vontade, da mesma forma ocorre com ela, pois também é um ser vivo.
Ouvi da sinfonia do vento solando um taquaral que: também, da mesma forma que nosso organismo reage à procura de restabelecer o equilíbrio, o organismo dela, se assim poderíamos chamar, faz o mesmo.
Ouvi do burburinho de reunião de canarinhos da terra acomodados nos ramos de um manacá da serra que: assim como nós, quando agredimos nosso organismo com substâncias tóxicas e ele reage, independentemente de nossa vontade, com vômitos, diarréias, febres, erupções alérgicas, da mesma forma o organismo dela reage.
Como num processo sensitivo, percebi num mergulho dum gavião pela conservação da espécie, após vários vôos de reconhecimento, que ela nos chamava atenção de que não nos agredimos somente por meio de nossos sentidos mas, também, por meio de sentimentos e, principalmente, pensamentos.
Entendi, ainda, que essas agressões, independentemente de nossa vontade, trazem conseqüências como: transtornos; alienações; neuroses; psicoses e outras que “nem Freud explica”.
Como estalo mental, enquanto contemplava a persistência das ondas do mar, percebi que todas as percepções anteriores consistiam numa espécie de preparação, para suas justificativas e desculpas a nós, seus filhos mas, também, seus predadores.
Entretanto, deixara para o momento do seu espetáculo diário e que nunca saiu de cartaz; momento em que a serra torna-se sacra, canonizada pelo astro-rei, ao emprestar-lhe rubra auréola por miríades de rubis; momento mistério em que o dia não sabe se fica com o sol ou se cede ao luar. Sim, só a sensibilidade materna poderia escolher tão bem o momento, para deixar seu recado.
Inicialmente, lembrou de que são leis da natureza, que regem essa forma compulsória de ação, que independe da vontade, ou da inteligência, ou ainda da consciência dos seres.
Assim, às nossas agressões promovidas, de um lado, por nossa ambição sórdida e, por outro, por nossa omissão mórbida, ela, nossa Mamãe Terra, independentemente de sua vontade, está buscando reequilibrar-se, por meio dos cataclismos: terremotos; maremotos; erupções vulcânicas; tufões; furacões; enchentes; desmoronamentos de serras; pestes; enfim, independentemente de sua vontade, restabelecer seu equilíbrio com a transformação de suas formas a morte física de muitos de seus filhos.
E, foi o silêncio do crepúsculo quem iniciou o recado de Mamãe Terra: sou como uma nave e meus filhos seus passageiros. Nave com super lotação, a tendência é naufragar. Restabelecer meu equilíbrio é evitar o naufrágio, a destruição da nave, antes do que meus filhos tenham aprendido a amar e a religarem-se à natureza.
E, foi velada pelo manto bordado de galáxias que ela concluiu: assim como cada célula de meus filhos traz inteligência capaz de, independentemente de sua vontade, agir para restabelecer o equilíbrio e os manterem vivos e saudáveis, até que a missão de cada um tenha sido cumprida; da mesma forma cada um dos compostos por meus elementos traz inteligência capaz de agir para restabelecer meu equilíbrio, para que eu continue sendo o palco da vida, para que meus reinos evoluam e possam, assim como os rios se destinam aos mares, alcançar seus verdadeiros destinos. Enquanto isso não acontecer, desculpem os transtornos, pois estamos em missão universal.
Consciente de nossa presunção, temos convicção de que podemos não ter interpretado bem o recado de Mamãe Natureza por meio do murmúrio do riacho, da sinfonia do vento solando o taquaral; do mergulho do gavião, do burburinho dos canarinhos da terra, da persistência das ondas do mar, do silêncio do crepúsculo; da magnitude do manto de galáxias.
Por isso, te imploro caro irmão, fica atento e escuta nossa Mãe Terra, e não deixa de complementar seu recado. Tenho certeza que o farás, pois se chegaste até este pedido, certamente, não és do tipo que perguntas descrente: ouvir estrelas...?