Como não pode ter sido escrito pra você?
Desse reencontro cômico do destino entre o romântico bobo e a real naturalista, tanto o sofrimento quanto o prazer deixam lições que vão ficar.
De início, o alvitre da entrega total e do amor desmedido enquanto durarem as defraudadas porções de tempo vago, deixando longe de todo pensamento as preocupações que fora de nosso mundo acolchoado nos aterrorizam. A entrega dos corpos, dos afagos, do peito como recosto para mentes ávidas por esses momentos de paz. O estender dos braços, na espera dos abraços, ou de um afago, algum carinho, nada mais. O calar e tremer dos lábios e os caminhos, todos já traçados pelo mesmo destino hílare que novamente nos reuniu.
Ainda, aquelas mãos confusas e as desajeitadas palavras. A fita e o fecho do vestido estampado e a delicadeza nas alças da alva blusa, o corpo desnudo, mas escondido sob a vergonhosa timidez que a deixava mais linda. O achar de meu sossego perdido ao tocar dessa pele e no sorver desse perfume. O escorregar de meus dedos e a firmeza de minhas mãos nos salientes e delicados contornos desse pequeno corpo de mulher, que faz de meu instante o prólogo do céu, acelerando meu coração no ofegante ritmo das batidas em seu peito.
No contínuo, ritmos que se completam, mesmo que por breves instantes de troca de olhares. Olhares meus, que percorrem esse corpo onde tudo é fascinante, novo e atrativo, e que quando se notam, foram tomados pelo natural impulso, sendo abarcados e tragados por essas sinuosidades. Lençóis amarrotados sobre a cama, várias peças espalhadas sob ela, gotas de suor indiferenciáveis, murmúrios e cicios entre beijos e trocas de carícias.
Enfim, os sons do mundo lá fora em chamadas despertadoras da realidade; caminhada noturna, sorrisos discretos e apenas o desejo de abraços. Frases deslocadas, olhares furtivos, temerosos. Estômagos vazios e uma refeição aquém do que pedia a ocasião, palavras de despedida e a lastimosa separação, ausência de contato, espera, rendição, papel e caneta.
Não ouse dizer que não escrevo pra você!