Médicos: Anjos ou Demônios?

Por: Neodo Ambrosio de Castro

Não sei se é qualidade ou mania, mas gosto de ouvir uma história. Por isso vez ou outra escuto coisas surpreendentes.

Um cliente me contou esta:

Estava, ele, em um posto de atendimento médico da saúde pública, desses que têm pronto atendimento. Muitas pessoas esperando a vez de serem atendidos e enquanto isso conversavam uns com os outros e para se fazer ouvir, à medida que um falava alto o outro procurava alterar mais a sua voz. Assim ninguém entendia nada, cada qual falando, cada vez mais alto, uma bagunça de vozes e gritos.

O meu cliente não conversava com ninguém, escolheu um cantinho e lá ficou à espera do atendimento. Não podia deixar de ouvir queixas e mais queixas.

A saúde pública está cada vez pior...

Dizia outro: O médico fulano é bonzinho, ah, mas o outro é muito bruto, bate à porta, fala alto e não deixa a gente falar. Alguns nem examinam e vão logo escrevendo a receita e aqueles que sequer escutam as nossas queixas?

Minha cunhada conseguiu uma consulta com um médico maravilhoso – atencioso, delicado, daqueles que a gente pode queixar à vontade e pedir até receita de tarja preta que ele não nega nada. Prescreve exames pelo SUS, preenche uma ficha enorme e pergunta tudo sobre a vida do paciente – parece ser dos bons.

Assim o tempo passava, entra paciente sai outro com receita e pedido de exame nas mãos, a atendente pede silêncio a cada vez que chama o nome de alguém.

Tudo corria bem de acordo com a rotina, de um posto médico. Mas, de repente, entra um grupo de pessoas transportando um homem sangrando, gritavam, enquanto avançavam em direção a uma sala de atendimento, saiam da frente, deixem-nos passar. A correria e os gritos, repentinamente, deixaram todos calados e apreensivos.

O homem levado pelos familiares tinha sido vítima de assalto e fora baleado.

Enquanto o médico e uma enfermeira faziam o atendimento, os parentes gritavam e choravam:

Salva ele Doutor. E o outro completava: Não deixe meu filho morrer.

Os curiosos que acompanharam o cortejo até o Posto de Saúde, comentavam:

Mas ele é uma pessoa muito boa, como pode alguém fazer uma coisa dessas e assim recomeça o burburinho uns dizem que a cidade está muito violenta, outro respondia que não havia como estar seguro nas ruas. Assaltos, assassinatos, drogas...

De repente, o mundo se tornou o lugar mais inseguro do universo para se viver.

Enquanto isso, prossegue o atendimento:

O médico grita para uma atendente solicitar uma ambulância com urgência, pois o estado do paciente é grave e o Posto não tem recursos para cuidar dele.

Como uma represa que se rompe, sai o médico da sala e manda suspender o pedido da ambulância, o paciente não havia resistido aos ferimentos.

Nesse momento os parentes do falecido começam a atacar o médico com palavras agressivas, mencionando até incapacidade, enquanto os familiares gritavam e choravam, um deles começou a chutar as portas gritando:

Você matou meu pai. Médicos incompetentes...

Absurdo, comentavam. Como um médico pode não ser capaz de salvar uma vida?

Assim são os médicos: Anjos ou demônios. Queridos ou odiados sempre serão os salvadores de vidas ou incompetentes e relapsos. Uma bela profissão, cheia de espinhos, mas com suas compensações.

Antes ele era toda esperança para aquele moribundo que chegava ferido e sangrando, agora o acusavam de tê-lo matado.

Mas quem deu os tiros?