O HOMEM NÚ E UM FELIZ ANIVERSÁRIO
O homem alto estava cabisbaixo.
Olhando pro chão à procura de sua vida, pensou no dilema que estava vivendo: tudo que ele mais queria neste mundo é o que lhe traz mais infelicidade.
Ele parecia um poste invisível. As pessoas passavam por ele sem perceber a sua presença.
Um rascunho de sorriso amarelo brotou de seu rosto carrancudo quando pensou em como seria bom ser de fato invisível.
A manhã estava apenas começando, e o gosto amargo em sua boca tratava de lembrá-lo da noite passada.
Sua sorte resolveu realmente abandoná-lo, afinal o que poderia justificar ele sair da ressaca bem na hora em que estava nú e suado em cima de uma mulher qualquer ?
Pensando bem, achou que seu azar poderia sem uma sorte tímida e disfarçada.
As lembranças castigavam sua cabeça feito a imagem de uma televisão com defeito.
Ele nunca chegou perto de qualquer tipo de droga, mas misturou todas as bebidas que encontrou naquela maldita festa.
Com a sensação de que sua alma tinha saído pra dar uma volta num lugar qualquer, as pessoas pareciam girar desordenadas numa dimensão sem qualquer sentido.
Ele sentia tudo, e sentia nada.
Aquela mulher parecia sensacional.
Parecia que seus pedidos tinha sido atendidos, e a única mulher que ele amou de verdade, se materializou em sua frente, apesar de ela ser morena, olhos castanhos, alta e com alguns quilos a mais.
O alcool tomou lugar do sangue em seu corpo, só isso para justificar o seu grave erro de interpretação.
O pedaço de tempo em que ele chegou perto da mulher, beijou sua boca, levou-a para um canto qualquer da casa e jogou suas roupas pela janela, se perdeu, pois ele não lembrava de absolutamente nada.
Foi um gemido estranho, parecido com um gato sendo torturado, é que fez ele acordar de sua ressaca.
Sem cerimônia, ele parou de penetrá-la, olhou de forma fria e inexpressiva pra mulher estranha, levantou-se e foi embora.
Enquanto o frio estampava a noite, entre risos e gritos o homem caminhava nú, cabisbaixo e com um gosto amargo na alma, e o vento rasteiro varrendo um cartão de feliz aniversário, que ele mesmo tinha escrito.