CONVERSA DE BOTEQUIM
- Vou te dizer, Arlindo, os cara que inventaro as cantigas de roda era tudo meio lelé!
- Num entendi, amigo!
- Olha só, por exemplo :
-
Atirei um cravo n'água,
de pesado foi ao fundo,
os peixinhos responderam,
viva D.Pedro II
Primeiro, só se o cravo fosse de ferro e, segundo, o que é que o barbudo D.Pedro tem a ver com a estória?
- É....
- Quer ver outra?
-
Ele é branco e amarelo,
Tem a crista vermelhinha,
Bate as asas, o-lá-lá
Abre o bico, olá-lá
Ele faz qui-ri-qui-qui
O cara aí tinha perdido o galo e deu essa descrição. É tão boa, e tão original, que ele vai logo achar o bicho.
Ademais, galo que faz qui-ri-qui-qui...num sei, não!
- É...
- Tem mais! Espia essa:
Samba lê-lê tá doente
Tá co'a cabeça quebrada,
Samba lê-lê precisava
É de umas dezoito lambadas.
Cara, que maldade é essa? O garoto tá na pior e ainda vai levar pau? E tem que ser dezoito lambadas, nem mais nem menos?
- É...
- Pó, Arlindo, tu num fala outra coisa, cara?
- Pois é!
- Mais umazinha só:
Pai Francisco entra na roda,
Tocando seu violão,
Vem de lá seu delegado,
pai Francisco entra na prisão.
Como ele vem todo requebrado,
parece um boneco desengonçado.
-Afinal, que regime é esse? O coitado do violeiro vai em cana, vítima de claro abuso de autoridade e sai todo requebrado? Só se curraram o pobrezinho dentro da cadeia!
- Pra encerrar o papo e a gente poder acabar o chope, manja só essa:
Atirei um pau no gato-tô-tô
Mas o gato-tô-tô,
não morreu - reu - reu
D Chica - cá-cá
Dimirou-se - se
Do berrô, do berrô quiu gato deu
Esse devia ser gago e, além disso, D Chica, essa sim, deveria dar umas boas palmadas na criança.
- É...
- Mas essa aí tem estória, rapá; a Sociedade Protetora dos Animais processou a criança, que foi metida numa cela junto a meliantes perigosos e só foi solta após seu advogado fazer o juiz mudar de opinião, argumentando que o gato teria se jogado sobre a criança e, portanto, "trata-se, excelência, de um claro caso de legítima defesa".
- É...
- Ô, ô, lá vem a Rosa! Essa mulata, decididamente, num tem osso, e ainda deixa um cheirinho de canela quando passa...
Vou acabar o papo, mas agora vou cantar bem alto, pra ver se essa danada escuta:
Se'ssa rua, se'ssa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
PARA O MEU, PARA O MEU AMOR PASSAR!
- Vou te dizer, Arlindo, os cara que inventaro as cantigas de roda era tudo meio lelé!
- Num entendi, amigo!
- Olha só, por exemplo :
-
Atirei um cravo n'água,
de pesado foi ao fundo,
os peixinhos responderam,
viva D.Pedro II
Primeiro, só se o cravo fosse de ferro e, segundo, o que é que o barbudo D.Pedro tem a ver com a estória?
- É....
- Quer ver outra?
-
Ele é branco e amarelo,
Tem a crista vermelhinha,
Bate as asas, o-lá-lá
Abre o bico, olá-lá
Ele faz qui-ri-qui-qui
O cara aí tinha perdido o galo e deu essa descrição. É tão boa, e tão original, que ele vai logo achar o bicho.
Ademais, galo que faz qui-ri-qui-qui...num sei, não!
- É...
- Tem mais! Espia essa:
Samba lê-lê tá doente
Tá co'a cabeça quebrada,
Samba lê-lê precisava
É de umas dezoito lambadas.
Cara, que maldade é essa? O garoto tá na pior e ainda vai levar pau? E tem que ser dezoito lambadas, nem mais nem menos?
- É...
- Pó, Arlindo, tu num fala outra coisa, cara?
- Pois é!
- Mais umazinha só:
Pai Francisco entra na roda,
Tocando seu violão,
Vem de lá seu delegado,
pai Francisco entra na prisão.
Como ele vem todo requebrado,
parece um boneco desengonçado.
-Afinal, que regime é esse? O coitado do violeiro vai em cana, vítima de claro abuso de autoridade e sai todo requebrado? Só se curraram o pobrezinho dentro da cadeia!
- Pra encerrar o papo e a gente poder acabar o chope, manja só essa:
Atirei um pau no gato-tô-tô
Mas o gato-tô-tô,
não morreu - reu - reu
D Chica - cá-cá
Dimirou-se - se
Do berrô, do berrô quiu gato deu
Esse devia ser gago e, além disso, D Chica, essa sim, deveria dar umas boas palmadas na criança.
- É...
- Mas essa aí tem estória, rapá; a Sociedade Protetora dos Animais processou a criança, que foi metida numa cela junto a meliantes perigosos e só foi solta após seu advogado fazer o juiz mudar de opinião, argumentando que o gato teria se jogado sobre a criança e, portanto, "trata-se, excelência, de um claro caso de legítima defesa".
- É...
- Ô, ô, lá vem a Rosa! Essa mulata, decididamente, num tem osso, e ainda deixa um cheirinho de canela quando passa...
Vou acabar o papo, mas agora vou cantar bem alto, pra ver se essa danada escuta:
Se'ssa rua, se'ssa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
PARA O MEU, PARA O MEU AMOR PASSAR!