SOU RESILIENTE
Precisa andar um pouco para pensar. Ficar em casa a deixa sufocada. Se sente sufocada porque a casa tornou-se pequena para ela. Precisa estar ao ar livre, precisa ver o mundo.
“Estou cansada. Às pessoas não me compreendem e nem eu mesma a mim” - vai pensado enquanto caminha.
Para diante de um cruzamento e fica olhando os carros passarem. Abre o sinal e ela continua parada, imóvel como se não houvesse necessidade de atravessar a rua. Não havia não. Ficar ali parada era bom. De repente se sentiu dona de si mesma. “Atravesso quando quiser, posso esperar o sinal abrir e fechar e não me importo. Posso voltar agora para casa. Mas não vou!”
Parada ali no trânsito a fez pensar, em pouco tempo, em tantas coisas tal como a velocidade que os carros passavam.
A sua vida passou rápida em sua mente. Nunca foi de muitos amigos, nunca foi a preferida pela família, nunca foi a disputada na escola, nunca foi boa o bastante em nada.
Esses pensamentos assaltaram de repente o seu ser. O seu corpo estremeceu em perceber que nunca fora nada na vida de ninguém. Tem filhos, marido e só isso.
Talvez estivesse sendo egoísta. Tem pessoas que passam pela vida sem tudo isso e nem se sentem infelizes.
“Sinto que estou sozinha, mas não vivo sozinha. Tenho a minha família, ela me completa, mas eu não me completo. A outra parte de mim aprendeu a ser só.”
Caminha de volta para casa, para o lugar onde encontrará pessoas que gostam dela, que a querem bem, que a amam. Isso bastaria para fazê-la feliz, mas o problema não está neles. O problema é ela.
Tão sem desejo, tão sem esperança, tão cansada. Quem a vê caminhar não sabe o tormento que carrega dentro do peito, em sua alma.
Ninguém percebe que não há vida. A sua vida é resiliente em comparação a vida que toda a gente vive. Sobrevive. Resisti a tudo. Descobre que consegue suporta mais do que as pessoas são capazes de suportar. Consegue suportar o incompreensível que é viver.