COISAS DE MINAS RURAL
Andei pelas Gerais e descobri uma coisa da qual não tenho inveja dos mineiros, eu sinto Minas melhor do que eles, pois o peixe de água gelada nunca diz para outro, como esta água está fria, ou então, quando o mocinho do filme, Água para Elefante, ao limpar os estrumes dos grandes animais pela primeira vez, disse ao companheiro que fazia isto a vida toda, como você aguenta este cheiro? Esse de pronto respondeu, que cheiro?
Tanto o peixe como trabalhador circense, assim como o mineiro que continua na sua terra se acostumaram às condições que os cercam.
Percorri a região sul de Minas das proximidades com a divisa do Estado do Rio de Janeiro, de Passa Quatro até Passos perto de Ribeirão Preto – SP. Senti os cheiros de Minas, o cheiro do capim gordura, do alecrim, do leite morno que sai das tetas das vacas girolandas.
Ouvi os sons de Minas, o canto do sabiá, que lá é mais melodioso, os burburinhos das águas cristalinas que reverberam nas pedras dos riachos, o cricrilar dos grilos, o coachar dos sapos nas veredas, o crucitar da coruja sobre o esteio da porteira, o dueto do bezerro apartado com sua mãe.
Vi o caboclo sentado nos calcanhares me cumprimentado com um leve levantar da cacunda, as mais belas montanhas que se amontuam umas sobre as outras se estendendo no horizonte sem fim.
Bebi das fontes de águas cristalinas, respirei aquele ar perfumado, comi uma infinidade de doces, que se assemelham com os daqui, mas com a particularidade de serem de Minas, isto os torna especiais. Comi feijão tropeiro, couve picada, torresminho, ora pro nobis, tomei das cachaças de Salinas acompanhado com pedaço de queijo da serra da Canastra. Freqüentei mesas de quitandas impares e variadas acompanhadas do melhor café coado em coador de pano.
Ouvi a viola caipira, joguei truco com as manilhas tradicionais, ouvi histórias ao pé de fogão, pesquei lambaris e bagres no ribeirão, abusei da hospitalidade, amei o sotaque com tudo no diminutivo:
Vamos tomar um cafezinho? Aceita um bicoitinho? Demora mais um pouquinho. Vamos matar um franguinho para comer com arroz.
Disse para o companheiro de viagem, que era da região que ia escrever sobre isto, ele me respondeu: Que bobagem, larga disso só, quem vai ler umas besteiras destas? Isso tudo é o nosso comum.
Então, não quero mudar para Minas não, quero continuar a ter esta vantagem sobre os mineiros, quando quiser ir para o paraíso é só adentrar para as Gerais.
São por esses sentires, visões e sabores é que lá tem cidades com os nomes, a começar pela capital: Belo Horizonte, São Sebastião do Paraíso, Paraisópolis, Poços de Caldas, Caldas, Águas Claras, Pedra Azul, Água Boa, Água Formosa, Belo Vale, Bom Repouso, Pouso Alegre, Cachoeira da Prata, Cachoeira Dourada, Campo Belo, Campo Florido, Campos Gerais, Cana Verde, Espera Feliz, Monte Alegre de Minas, Monte Belo, Santa Rita de Caldas...