Os Dois Reais Nunca Esquecidos

Era uma manhã de domingo qualquer, eu acabara de sair da igreja e ia para casa. Passei na padaria, viciada em doces que sou, procurei na bolsa uma pratinhas para comprar um, mas por incrível que pareça, quando a gente tem filho pequeno, as moedas da bolsa evaporam por milagres. Não tinha moeda e o dinheiro inteiro estava em casa e a vontade por aquele doce fazia-me não desviar o olhar pedinte dele (chocólatra que sou). A moça que me atendia (que aqui vou chamar de Silvia) era nova na padaria, estava substituindo outra em licença maternidade. Ela ficou com pena de mim, deu-me o doce e junto dois reais para pagar no caixa. Disse-me:

_ Toma! Paga lá!

Eu tive um primeiro ímpeto de recusar, mas havia tanta ternura naquele gesto da atendente que com um sorriso muito simpático me ofereceu sem esperar nada em troca seus dois reais. Perguntei seu nome e ela me respondeu:

_ Silvia.

Disse-lhe então:

_ Menina, se você se condoer de todas as pessoas que entrarem aqui sem dinheiro desejando algo, vai ficar sem seu salário mensal! Obrigada! Amanhã eu volto e lhe devolvo os dois reais! Mas a gentileza, perdão! Nunca vou conseguir pagar! (sorrimos juntas e eu fui embora) imagino como ainda existem pessoas boas e desprendidas nesse mundo! Aquela jovem não me conhecia e me deu, sem que eu pedisse, do pouco que ela tinha, em um gesto simples de pura generosidade. O chocolate adoçou minha manhã e satisfez meu vício, mas o gesto da mocinha adoçou meu coração.

Hoje, novamente domingo, passo na padaria antes de ir para casa encontro Silvia sempre sorridente, e a moça que ela substituíra (Ana) e outro rapaz funcionário da padaria (Fábio),e eles estavam implicando com ela (de brincadeira), entrei na farra e disse que ela não era assim como diziam, pois fez um gesto bom comigo, sem nem me conhecer me emprestando os dois reais.

Ao que eles retrucaram:

_ Ela comprou sua simpatia, Irene! Era só pra você dizer isso em hora oportuna! Esses dois reais nunca mais vão ser esquecidos! Garanto que ela disse: Aqueles dois reais que a Irene pagou aqui, fui eu que dei, se ela não me devolver, desconta nalgum produto que ela comprar... (coisas assim)

Sei que eles falavam de brincadeira...Estávamos, todos nós, brincando. Mas nessa brincadeira toda reflito uma coisa: Nesse mundo de relações movidas por interesses, as pessoas têm dificuldade de entender gestos desinteressados como esse de Silvia... Quanto a esquecer, realmente nunca serão esquecidos esses dois reais, pois eles, apesar do ínfimo valor monetário, assumiram para mim um inestimável valor que perpassa pela amizade e a gratidão... Fábio e Ana me sugeriram escrever uma cônica sobre isso e até deram ideias para o título “Dois” ou “O nunca esquecido”...E pediram para eu colocar no "Orkut" e no "Mimosoonline" pra para eles lerem...

Bastante sugestivo e engraçado o título e a ideia, e eu resolvi acatá-la. Porém a maior motivação em atender ao pedido deles foi a amizade de Silvia.

Quem dera no mundo tivessem mais pessoas da estirpe dessa moça!!!

Obs.: Os nomes colocados aqui são nomes fantasia, porque eu não tinha autorização das pessoas para colocar seus nomes reais, porém o fato é real. Caso elas permitam, farei as modificações.

Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 13/11/2011

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 13/11/2011
Reeditado em 13/11/2011
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