Vinho em Caxemira?!
Em "Retrato de Dorian Gray", o personagem principal do romance do escritor irlandês Oscar Wilde comenta ao encontrar o seu retrato pronto:” "Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!" .
Carolina pode sem sombras de dúvida protagonizar a personagem Dorian Gray sem ter feito escola de teatro. Mulher vaidosa não quer de forma alguma demonstrar que passou a casa dos sessenta. O seu objetivo maior é causar admiração, e, para que isto aconteça veste-se com roupas de corte e caimento impecável. Busca comprar os melhores cosméticos e produtos de higiene pessoal. Faz questão de contar que coleciona batons da moda. Cores vibrantes fazem parte da sua maquiagem.
Um luxo só é o seu retorno ao Brasil em uma das suas viagens além das nossas fronteiras. Miami é o paraíso das compras! Mala recheada de roupas, acessórios, perfumes, e o diabo a quatro, faz a sua alegria e desperta ainda mais a sua vaidade.
Contam as más línguas que o próprio Narciso no dia do seu nascimento a olha..., passa o dedo indicador pelo rosto do bebê, ainda enrugado pelos meses no líquido amniótico e diz: “Eu a escolhi para ficar no meu lugar per omnia seculum seculorum... “
Pois bem! Este “Narciso de saias” comprou uma mantilha da cor de vinho no shopping Florida Mall. Um espetáculo! Feito da lá do puro pêlo da Cabra-da-caxemira. Um estouro!
Sábado! Baile de gala da turma de medicina. Carolina se empiriquita toda. Vento frio! Chuva fina! Dia de extrear a sua mantilha de caxemira.
Domingo sonolento! Na segunda feira, Maria, a sua manicure chega para lhe fazer a unha. Senta e a conversa corre livre, leve e solta...
“Dona Carolina, eu queria pedir um favor.”
“Um favor!?”
“Pois é, eu queria pedir pra que numa dessas suas viagens pra longe, a senhora num poderia trazê um cobertor do avião, igualzinho, aquele vinho, que a senhora usou no baile, sábado.”
Lívida! Embasbacada! Horrorizada! A narcisista berra!
_Como? Cobertor? Vinho? Avião? Ai... Meu Deus! O quê? O que, eu fiz para ouvir tamanha ignorância. Aquele não é cobertor de avião! Eu, nunca peguei e nem vou pegar essas porcarias dadas no avião. Aquele, ignorância em pessoa, é uma mantilha, man-ti-lha... feita de pura lã de caxemira. Cruzes! É muita ignorância para uma pessoa só!