Quer dançar comigo?
A primeira vez que te vi estava de noite. Não observei bem os traços fisionômicos do seu rosto, do seu corpo. Nem a cor dos seus olhos ou da sua unha. Mas me encantei com sua voz e com o que dela saia. Música. Numa outra oportunidade me detive mais detalhadamente em observar o seu rosto, seu corpo e a cor dos seus olhos e fui me encantando cada vez mais.
Vc canta.
Faz tempo observei que a música é uma arma que o espírito não tem defesa. A música leva o corpo ao embalo conforme seu ritmo e, quando nos deparamos, já estamos dançando. A música não dá oportunidade a questionamentos: agrada ou repulsa. Mesmo às repulsivas ainda contamina o espírito humano mais refinado. A música é feiticeira, encantadora.
Vc encanta.
Enquanto escrevo ouço Bolero, de Ravel, uma música que há muito enfeitiçou-me quando, sentado frente um rio, contemplava o pôr-do-sol. Tal encanto faz-me voltar a vida ao exato momento que não mais exite. Momento este que sempre atualiza quando ouço Ravel. Esse é um dos "poderes" que a música possui. Retroceder o momento que não mais existe.
Assim é a sua voz quando a ouço. Sua voz já me traz à memória seu rosto, seus olhos, seus sorriso, enfim, seu encanto. É... fui encantado por você. Sua voz se destaca dentre as outras a tal ponto de fazer vibrar meu coração.
Afirmar isso me deixa um pouco amedrontado. Com receio de escutar uma música que faça mal aos ouvidos e ao coração. Por eu ser dado à filosofia, às artes plásticas, à poesia e à contemplação da natureza tornei-me sensível demais. Mas vou melhorar. Venha a música, seja qual for, pois, ouvindo-a, eu quero é dançar.