ÀS COROAS DA TERRA

Num momento em que a imprensa mapeia o caos da saúde pública pelo qual o Brasil inteiro passa, inclusive SÃO PAULO, ontem a telinha, que tão bem também colabora com a administração do país, nos levou ao ar do JN algo inusitado, ao menos eu nunca havia visto tal celebração na mídia: a filmagem televisiva da coroação catedrática dum jovem e exímio professor doutor da Universidade de São Paulo.

Cargo no qual se coroa a capacidade máxima dum ser ao nobre exercício da medicina.

Deduzi, como cidadã, que Graças à Deus e aos homens políticos, nem tudo na saúde está perdido por aqui.

Nos meados dos anos oitenta, o INCOR, o Instituto de Cardiologia do Hospital da Clínicas da Universidade de São Paulo, se consagraria pelo atendimento de excelência ( e das excelências!) ao receber a urgência médica duns dos seus primeiros políticos, o quase Presidente da nossa República Tancredo Neves que na madrugada da sua posse apresentou um quadro abdominal agudo que infelizmente o levou ao óbito.

Ali começaria os anos de glória do INCOR, que duraram quase duas décadas.

Infelizmente a fila andou no tempo e sequer o tal INSTITUTO resistiu aos ingerenciamentos dos caos frente aos tantos históricos percalços da saúde pública brasileira, que todavia, atualmente com a lei das "organizações sociais", (as O.S) aquela lei política que prevê o gerenciamento do PÚBLICO PELO PRIVADO, com a verba dos governos, obviamente, vemos finalmente a possibilidade da nossa saúde, a do povo, sair do buraco.

Ufa, que bom. Mais do que na hora.

Vale lembrar que hoje, o "Hospital de Ponta" da cidade, o que atualmente mais recebe as gerações de políticos, tão ilustremente ali representadas por aqueles que reverenciaram a posse do doutor da USP, também é um ícone representante das "organizações sociais" , as que recebem verbas GRAÚDAS e prometem dar um jeito na saúde pública brasileira.

Inclusive na preventiva, como ontem declarou o doutor lá na sua coroação.

Confesso que respirei aliviada.

Prevenção em saúde me parece algo emergencial, ainda mais agora que a tuberculose, o sarampo, a coqueluche, a meningite, a dengue, a Chagas (cuidado, nem o açaí da nossa terra podemos degustar sossegados por aqui!), e tantas outras doenças que por ora minha lembrança se omite, estão fortemente recrudescendo aos olhos semicerrados da saúde pública e de seus gestores QUE SÓ APLAUDEM.

Eu, sinceramente, desejo boa sorte ao mais novo Catedrático da maior Universidade da América Latina, que promete lançar seus olhos sobre nós, o simples povo, porque a jornada por aqui não é nada fácil.

O panorama do campo de atuação da saúde pública é bem diferente dos campos hospitalares "de ponta" e toda cátedra pública obviamente que conhece nossos graves problemas.

Decerto que faz parte do curriculum de toda a sabedoria.

Que um dia, TODAS AS COROAS, não apenas as das gerações dos políticos que ali estavam aplaudindo, possam servir também às tantas causas anônimas, sempre sem plateias, as do nosso mais que sofrido povo brasileiro, bem como a difícil causa dos esquecidos profissionais de saúde que o assiste.

Ao povo que sempre aplaude sem o discernimento que se exige para a real compreensão dos fatos que nos são mostrados.

Termino com um lembrança ilustrativa ao mundo INACREDITÁVEL de hoje:

"Bem aventurado os *pobres de espírito, porque deles serão os reinos dos céus"

(Penso que logo já não haverá mais espaços para tantas coroas dos reinados desta terra).

NOTA:

* Dizem que depois de vários estudos da tradução do Hebraico se deduziu que o adjetivo "pobre", neste contexto Bíblico polêmico escrito em MATEUS V. 3, significa "humilde de espírito".