O Gosto da Tensão do Freio na Boca do Cavalo Que Quer Escoicear
"Mimimi, mimi, mimimimimi"
Você meneia a cabeça concordando, resmunga um "hum" e vira os olhos pro cérebro. No minuto seguinte ao fim do mimimi será a mesma coisa de antes do mimimi. Descrer do crível alheio é afrodisíaco, principalmente quando é um discurso que de tão previsível soa repetitivo.
"Mimimimimimimimimi"
Há um determinado momento que sua atenção é desfocada para qualquer coisa insignificante e o mimimimimimimi vagamente te lembra o zumbido de um inseto. Contudo, invariavelmente o mimimimimi quer te fazer inseto. E seu instinto selvagem pede um coice, mas você sente o gosto da tensão do freio na boca do cavalo que quer escoicear.
"Mimimimimimi"
E aí de fato você vê um inseto do outro lado do vidro da sua janela com vista panorâmica pra mistura de gases nocivos e informações invisíveis embaralhadas voando na altura do décimo segundo andar; volteando, girando, descendo dois palmos e subindo cinco e se sente humano em demasia com o mimimimimi invadindo seu cérebro pela porta de trás; sente a humanidade dogmática imbecilóide que está incrustada no seu âmago de uma tal forma que não há provérbio babaca que te tire a sensação inclemente de Vazio - e aquele inseto ali, sem nome - Siriri? Muriçoca? Pernilongo? Aedes? -, ostentando uma liberdade invejável, vendo o que você jamais pode ver e tendo uma vida curta - Dois dias? Uma semana? - e vasta de rica experiência, sem funeral e lágrimas falsas e sem céu nem inferno, que padece e desaparece, simples como tem que ser, e você fica, todo imbuído de uma crença besta na infinitude pós-finitude, ouvindo um mimimimi de uma mente portadora de uma tacanhez hedionda.
E meneia a cabeça concordando, e perde o mosquito de vista, e perdem-se de vista também sonhos doces prometidos na infância.
12/11/2011 - 02h00m