Nestas minhas aventuras, resgatando animais de situações de risco, tenho passado por poucas e boas. Esta é uma história real, de um resgate perigoso.
Tendo avistado uma cadelinha filhote, pretinha e peluda, de uns três meses de idade, à margem de uma estrada deserta por onde passo todos os dias, tentei pegá-la, em vão. Ela, assustada, se escondeu de mim nos matos altos e desapareceu.
Corri para casa, chamei um ajudante, peguei uma tigela com comida cheirosa, umas cordas e rumamos para o local, que eu tinha demarcado com um saco plástico preso numa árvore.
Reconhecendo o meu carro parado no acostamento, parou também um conhecido, que mora numa chácara próxima, e dava a sua voltinha de bicicleta.
E nós três começamos a busca, cada um num trecho daquele local, até darmos com o esconderijo da cadelinha. Por ser aquela a época de chuva em Brasília, ela tinha cavado um buraco no barranco próximo, e ali se entocava. Perto, alguém deixara um “despacho” e a comida estava revirada, sinal de que a bichinha se alimentara dela.
Corre daqui, corre de lá, conseguimos cansá-la a ponto de ela ir se deitar ao pé de um arbusto, e ali nos encarava, com olhinhos muito abertos, sem saber se nós éramos a salvação ou uma ameaça.
Cada um de nós se aproximou por um lado, até cercá-la e passar um laço no seu pescocinho. Nesse momento, ouvimos o som inconfundível de um chocalho. Olhando para a cadela, não prestamos atenção ao que estava do seu lado: uma enorme cobra cascavel enrolada, balançando a cauda furiosamente, indicando que não queria conversa. Estas serpentes, quando incomodadas, podem matar um homem com o seu veneno.
Ao mesmo tempo, pulamos todos para trás, puxando a cadelinha que, felizmente, já estava laçada, e fugimos dali depressa, para a segurança da estrada.
Entreolhando-nos, ficamos felizes por ter escapado de um acidente que podia ter sido fatal, tanto para a cadela quanto para um de nós, que fosse picado pela cobra peçonhenta.
Estávamos todos de sandálias havaianas, e o moço da bicicleta, branco de susto, observou esse detalhe:
- Olha só o perigo que corremos! Quase pisamos nela e, com estas sandálias, estaríamos ferrados...
- Pois é - respondi, rindo - as sandálias havaianas não têm cheiro, não deformam nem soltam as tiras mas, certamente, não são à prova de cobras.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Susto
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