O PREÇO, A VIDA

Não me venham falar que fazer tatuagem não doi quase nada, mentira!

Doi pra burro!

Quando adolescente, ainda se fazia tatuagem usando agulha e tinta nanquim. Tentei tatuar uma pomba na parte de trás da minha perna. Levaria dois dias para ficar pronta. Primeiro a marcação e depois colorir. Não passei da primeira fase. Doía horrores!

Furar orelha até que nem doeu tanto. Furei já com treze anos então tinha que anestesiar o lóbulo da orelha com gelo e depois com uma agulha desinfetada com álcool para fazer o furo. Não doeu tanto. Passava a agulha com linha para não fechar o buraco e depois de dois dias colocava-se o brinco, de preferência de ouro para não inflamar muito. A dor até que era suportável, mas a infecção depois é que dava trabalho!

Não sou tão velha assim, tenho quarenta ejjjjjj anos e tive uma infância em que se podia brincar na rua, na chuva, cair de bicicleta e sair correndo depois ainda sentindo dor do tombo.

Na minha adolescência ouvíamos rock, seja heavy metal ou outra coisa qualquer, mas dava no mesmo queríamos nos divertir.

O rapaz que queria ficar um pouco mais forte fazia execícios ou iam ao extremo: faziam questão de se alistar. Quem não fica forte no Exército?

As coisas que fazíamos, às vezes de maneira inconsequente, não deixava um rastro de estragos atrás de nós.

Não conclui a tatuagem por causa da dor. Hoje posso até fazer que a dor é suportável, mas não me interesso. Não estou mais na fase da tatoo.

O furo na orelha ficou bom. Hoje uso brincos que eu quiser. Sem problema.

Quando a minha filha nasceu já saiu da maternidade com a orelhinha furada e com o brinco. É opção dela hoje não usar brinco. Não gosta.

Vejo a tatuagem como forma de autoilustração. Começa com uma, depois acrescenta mais outra e mais. Alguns têm mais tatuagens do que pele. É opção de cada um.

Algumas tatuagens são até bonitas, mas eu não gostaria de vê-la envelhecer junto comigo.

Mas tudo tem sem tempo, a sua marca, o seu preço.

Vivi uma infância que fazíamos tantas coisas e que se curava com mercúrio cromo, isso se a mãe chegasse a ver. Cuspe servia também! Ficávamos com cicatrizes que substituam as tatuagens. Nosso preço: a diversão.

Hoje a juventude pode tantas coisas e acabam se perdendo entre elas, acabam por adoecer, se tornarem dependentes, sem saída. A marca é indelével mas fica para todos verem e se horrorizarem. O preço: a vida.

katialimma
Enviado por katialimma em 11/11/2011
Reeditado em 27/06/2020
Código do texto: T3329401
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