"!Não fique velho."

Estava em minha cadeira de balanço, onde antigamente dava minha cachimbada e tomava o cafezinho gostoso, feito por minha esposa, à moda antiga, coador de pano e etc. Nesta época, era comum, meus vizinhos passarem e me cumprimentar, até dar, um dedinho de prosa. Hoje, não fumo mais, nem tomo café, pois todos meus pequenos prazeres foram proibidos pelos médicos e pelos filhos, para que eu vivesse mais. Será que é tão importante viver mais? Todos os prazeres da vida lhe são tirados, seus amigos morrem, seus filhos crescem e o abandonam, seus conselhos, não são mais úteis e se você insistir, ainda é recebido, com um sorriso de descrédito. Se você tentar regar uma planta, um filho o repreende energicamente. -Você não tem mais idade para isto, senta na sua cadeirinha e descansa. -Já já, sai o almoço. Almoço sem sal, laranjada sem açúcar, salada sem tempero, e tudo isto para você manter a saúde, sim, mas e o prazer? Acho que todas as pessoas idosas não podem ter nenhum prazer. Você só ouve, coloca a toca, pegue o guarda chuva, não ande no sol, saia para tomar um solzinho, precisa comer, não coma tanto. Tenho a impressão que já morremos. São jogadas vinte e quatro horas em nossa cara, o trabalho que damos e se esquecem o trabalho, que tivemos para fazer com que ficassem assim intransigentes. Acho que qualquer hora vou para um asilo. Conversei com várias pessoas que se pudessem, sairiam desta vida agora, porém nem isto conseguem fazer. Mas graças aos cuidados e sem ingerir as vitaminas necessárias, iremos logo mesmo. Dão-nos tanto remédio, que mais comprometem, do que aliviam, nossos cansados rins e estomago. Se eu pudesse, queria viver mais um dia, comer aquele feijão de caldo grosso, que minha esposa fazia com pedaços de carne de porco e couro, que era uma delícia. Tomar café com açúcar cristal, passado no coador de pano e moído na hora. Fumar meu cachimbo, com aquele fuminho caporal, que eu gostava tanto e depois morrer. Sim morrer com dignidade, que sempre vivi, sem ter que me humilhar, pegar comida quando querem e não quando tenho fome. Comer a fruta que eu quisesse, a hora que quisesse. Reencontrar meus verdadeiros amigos e parentes que tanto amei, e hoje estão, espero no céu ou em algum lugar, que com certeza será melhor que aqui.

Crônica: contada a mim, por um senhor amigo, já falecido que provavelmente deverá estar não sei se é permitido, mas se for, estará no céu com seus amigos, fumando seu cachimbinho, com seu fumo caporal, (não sei se é marca ou tipo) e tomando café colhido, torrado, moído pela família e coado, em coador de pano.

Seja feliz onde estiver Senhor. (não me foi autorizado dizer o nome, mas ele saberá que estou falando dele.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 11/11/2011
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