REPUTAÇÃO
Dona Gerda foi personagem de uma crônica do mesmo título do genial Luiz Fernando Veríssimo e que construiu, a muito custo e trabalho, uma reputação quase messiânica. Não se tratava dessas que distribuem panfletos pelas ruas com nome de “mãe não sei o que” e que cobram para enganar. Dona Gerda era a intuição acrescida da experiência que resultou numa visão larga e sensata do mundo. Chegou ao ponto de ser recomendada pela medicina quando esta desenganava o vivente e alegava não possuir mais recursos para casos muito complicados. O médico costumava dizer: - já fui até onde os conhecimentos permitiam, agora, só mesmo a D. Gerda.
Entre os milhares de poemas e umas milhões de outras prosas que já devo ter lido falando sobre a busca da felicidade, sem falar na “última pesquisa científica” dos especialistas (tem sempre a última todo dia, já notaram?) achei pouquíssimas que incluem a conquista de uma boa reputação como um item que traga felicidade.
A reputação que traz a respeitabilidade; aquela que não coloca medo de concorrência; a que vem junto com uma fama e é desejada às raias da inveja. O contrário é o que mais se vê sendo valorizado na nossa sociedade. Muita gente quer evidência à custa de uma reputação que não construiu. Por isso há um desencadeamento de estresse elevado, há sempre o medo de o modismo passar e se cair no ostracismo. A reputação por vezes demora anos e anos para ser consolidada. E não podemos esquecer que a nossa convivência social é extremamente divisora entre o bem e o mal, não sendo muito bem aceito um meio termo. Portanto, a pessoa que a conquista precisa pisar macio, abrir os olhos e evitar vacilos, pois num descuido ela pode ir por água abaixo, inexoravelmente.
É muito diferente uma pessoa ser reverenciada e servir de referência. A reverência tem a ver muitas vezes com uma posição subalterna, com idolatria, afagos, gracejos e bajulações. Respeito se conquista com autoridade. Autoridade não se conquista com dinheiro, nem com autoritarismo, sequer com um cargo de nomeação. Um profissional competente e solícito para mim é uma autoridade. Um professor que além de ensinar é exemplo para seus alunos, para os pais e para a comunidade para mim é uma autoridade. Pais que sabem a hora certa de colocar limites nos filhos têm autoridade. São aquelas pessoas que mesmo não procurando, se transformam entre seus pares numa liderança e não usam dela para fins próprios ou de um grupinho. Não é a pessoa da panelinha. A boa reputação, diferentemente do bom mocismo traz alguma felicidade. O fato de ser querido pelo outro, de poder contribuir para a solução de algum imbróglio, seja pessoal, seja profissional, seja naquele dia a dia comezinho, isto traz uma porção bem servida de felicidade. Encaixa-se na almejada auto-estima elevada.
O que mais entristece, no entanto é o maniqueísmo predominante no meio de nós. Se uma sólida reputação abrir a boca em um lapso de minuto infeliz, aquilo que pode ter levado uma vida inteira para ser construído vai por água abaixo no julgamento coletivo, que é implacável, indócil e por vezes, insensato. Reputação se constrói demoradamente e se destrói à toa.