Casas Desocupadas
      
       As casas, explicam-nos suas causas finais, são construídas para vivermos nelas e não para serem apenas admiradas como constructo dos engenheiros ou arte dos arquitetos. Não somente casas, mas ruas e cidades. O “History” me demonstrou que cidades, por razões mais econômicas do que catastróficas, depois de cinquenta anos abandonadas, padecem lenta destruição, como se sofressem de um ácido málico dos desfeitos jardins; maligno, do desprezo da gente que deveria habitá-las. Nisso há adequada analogia, pois cidade tem vida: nasce, cresce e morre. E, quando morre, para de contar a história da qual ela se fez parte. Nossa memória não sobrevive somente no tempo, mas, sobretudo no espaço, onde nossa história se realizou. E esse espaço são as casas, as ruas, as cidades e as árvores dos seus caminhos.

 
       Temos escutado repetidos propósitos dos nossos dirigentes, prometendo revitalizar o Centro Histórico de João Pessoa e, quiçá, outros valores históricos das cidades interioranas. No entanto, eles agem ao contrário do que prometem.  Vejamos! O Porto do Capim de potencial e histórica navegação fluvial, de onde sairiam embarcações, pelo Rio Paraíba e suas encostas em destino à cidade e ao mar de Cabedelo, é desprezado; no Porto do Capim, os galpões, utilizáveis como repartições públicas ou Centro Administrativo do Estado, são vazias ruínas ou depósitos de madeira;  a Prefeitura Municipal foi transferida para a BR 230; os Correios e Telégrafos, idem;  e tantas outras instituições  “levadas à praia” por influência tendenciosa desse fluxo. E assim, perece a vida do Centro Histórico para, posteriormente,  prometerem  sua revitalização, mesmo retirando  de lá o que lhe dá vida: a população.

       “Sem sentido”, escreveu o inteligente jornalista Gerardo Rabello, como também o fez  Abelardo Jurema, ao protestar contra a transferência da “sede da Assembleia Legislativa para outro local – fala-se no Altiplano – é um crime contra o Centro Histórico e a estrutura de vida da região, onde está instalada há décadas, e onde se concentram as sedes dos outros Poderes”. Ora, depois de derrubado o valioso e histórico prédio, onde funcionava A União, para ser a Assembleia, planeja-se sua mudança. Por que não aproveitar o vazio prédio do IPASE para sua ampliação, há poucos passos da Praça João Pessoa e o que consequentemente iniciaria a restauração do Ponto de Cem Réis?  Existem edificações patrimoniais em torno da Assembleia, especialmente nas Trincheiras, com o que, se recuperadas e adaptadas a repartições da Assembleia Legislativa, se evitariam volumosos gastos e o constrangimento de os Deputados se afastarem da atual ambiência popular para um aristocrático ponto turístico praieiro...  Aliás, o Governo Federal, o do Estado e o de João Pessoa, como os de Campina Grande e de outras cidades importantes, deveriam dar exemplo, ocupando esses patrimônios, revitalizando-os, restituindo-lhes à normalidade até como habitação popular. Cuidemos de nossa João Pessoa,  que, entre as terceiras cidades mais antigas do Brasil, aos poucos, vem sendo transformada em trigésima pelas mãos dos seus guardiões.