ELE DEIXOU UM GRANDE VÁCUO
Hoje faz 30 anos e quatro meses que o meu pai fez a grande viagem, foi habitar outras dimensões. Depois de tanto tempo, a dor da perda física já não incomoda tanto, mas a saudade...
Meu pai era um homem reservado, caladão, muito sério. E mesmo não sendo uma pessoa grosseira e violenta, de certa forma aquele seu jeito sisudo criava uma barreira invisível entre nós, os filhos, talvez até pela enorme diferença de idade. Às vezes dizia umas “loas”, umas piadas, e ria tanto, chegando a engasgar-se (eram raros esses momentos).
Absolutamente o oposto da minha mãe, que até hoje é dinâmica, com uma sede inesgotável de adquirir conhecimentos e muito apressada (quer tudo pra ontem!), meu pai não era afeito a movimentos, era tranquilo até demais. E assim viu a vida passar..., sem pressa. Para ele os prazos não tinham a menor importância, pois o tempo era apenas um detalhe. Enfim, era um cidadão pacato, de bom coração e sem grandes aspirações.
Sinto muita falta do meu pai, daqueles olhos de um azul brilhante, profundo, os mais belos olhos azuis que já vi. E como gostaria de voltar no tempo para dizer a ele que o amava muito e que lamento demais pelos altos papos que não tivemos, os grandes abraços que deixamos de trocar e as inúmeras palavras de carinho que, por conta da nossa timidez e daquela barreira invisível, ficaram presas na garganta com receio de sair.
Ao menos o azul do céu ficou mais bonito ao misturar-se com o lindo azul dos seus olhos, meu pai. Sua saída de cena deixou um grande vácuo no meu coração, mas sua imagem continua muito viva em minha alma.