Fantasia Mortal
A companhia tocou. Irritado, ele foi abrir a porta do seu pequeno apartamento. Ficou muito surpreso com a visita: era uma mulata, vestida com fantasia de carnaval. Ele ainda não se recuperara do susto, quando ela lhe perguntou:
– E aí, posso entrar?
Ele assentiu.
A mulata adentrou o cômodo, se sentou no sofá e falou:
– Bem, você não me conhece. Eu vim aqui para buscar a sua alma.
O homem ficou mais assustado ainda.
– Está louca? Que alma, o quê! Quem é você?
– Eu sou a Morte – disse ela, calma – Hoje é seu dia de morrer. Por isso, vim buscá-lo.
– Se é mesmo a morte – ele gesticulou para as roupas dela –, então cadê sua mortalha, sua veste preta, hein? A Morte não é assim.
Ela ficou visivelmente irritada, e sibilou entre os dentes:
– Aqui é o Brasil, faz calor. Achei melhor vir à caráter. Talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas não importa. Só você pode me ver.
Ele, ainda desacreditando, gritou:
– Então prove. Se transforme na minha mãe. Só assim vou acreditar.
A Morte, impaciente, transformou-se na mãe dele, voltando ser mulata segundos depois.
– Você é mesmo a Morte. – resignou-se o homem – Mas, diga lá, do que eu vou morrer? Sou mais saudável que um cavalo.
A Morte ri e diz:
– Só se for um cavalo doente. Você vai morrer com uma parada cardíaca. Irão te encontrar amanhã, debruçado no chão.
– Que hora vou morrer? – pergunta ele, choroso.
– Você já morreu. Olhe seu corpo ali. Vamos.
Ele já estava acompanhando a Morte, indo para fora, mas parou.
– O que é? –Indagou a Morte.
Ele, tímido, pergunta:
– Antes de levar minha alma, você pode me fazer um favor?
– Fala.
– Samba pra mim?