A Cola
A COLA
Dizem que todo estudante “cola”. Você concorda com isso? Eu prefiro dizer que toda regra tem exceção. Mas a Jana, era exímia na arte de colar. Imagina, que ao se submeter um difícil teste, inventou uma enorme coriza. Não sabia seu querido professor, que o lenço em que se assuava estava transcrito parte da matéria que deveria cair na prova.
Jana usava todas as técnicas possíveis e imaginárias para se dar bem nas avaliações. Estudar mesmo, pra quê? E o pior é que fazia com tanta classe que seus professores ainda a consideravam uma aluna inteligente e estudiosa. Tanto é que só tirava boas notas.
Foi ela que introduziu entra a turma o método da “bula”. Pra quem não sabe o método da bula é xerocar as páginas dos livros em tamanho reduzidíssimo. Fica parecendo uma bula de remédio daquelas de letrinhas minúscula que mal se pode ler. Posta no bolso ou na palma da mão, ninguém imagina que o aluno está colando.
Uma vez ela quase se deu mal. Não deu tempo para fazer a “bula”. A prova era difícil, mas mesmo que fosse fácil não adiantava. A Jana não tinha estudado era nada. Ela não queria ficar reprovada. Precisava muito concluir logo seu curso. A coisa estava ficando preta e seus pais não poderiam pagar mais um ano de colégio particular. Mas ela logo encontrou a solução. Vou me sentar atrás da Jesus. Jesus era uma menina muito estudiosa. Primeira da classe. Só tirava dez. Com seu jeito especial de conseguir as coisas e com sua astúcia, convenceu a colega para lhe passar cola. Combinaram um código. Quando eu quiser a questão “um” eu “tutuco” uma vez. Se for a “segunda” eu “tutuco” duas vezes e assim por diante.
A prova começou. Jana não sabia nada e nem deixava Jesus se concentrar. Queria todas as questões. Mas a aluna estudiosa estava nervosíssima. Ela não pescava e nem tinha coragem de passar pesca. Medo de ser pega pelo professor. O tempo estava se esgotando, a qualquer hora a boa aluna acabaria a prova e iria embora. Jana, não podia mais esperar. Num momento que o professor ficou de costa, tomou a prova da mão da colega. Copiou as questões enquanto a outra de carteira e mãos vazias ficava com cara de espanto e bastante agoniada. Com muita classe devolveu como se nada tivesse acontecendo e ainda entregou a prova primeiro que Jesus.
Mas coisa de artista mesmo foi à última que ela aprontou. Ficou para recuperação. Só ela nessa matéria. Não tinha de quem colar. O professor era “Caxias” demais. Não adiantava escrever na carteira que ele trocava o aluno de lugar. Pedir para adiar a prova não resolvia porque ele ir argumentar que tinha marcado com antecedência. Arrependimento era tarde demais, faltavam três dias para o teste e a matéria era vasta. Por mais que quisesse estudar dessa vez, já não mais haveria tempo de aprender. Mas não podia ficar reprovada. Queria se formar junto com a turma que vinha com ela desde os primeiros anos. Que fazer?
De repente, uma idéia. Ligou para sua mãe que morava numa cidade vizinha:
- Alô!
- Mãe, é Jana.
- Oi filha, tudo bem?
- Mãe, quero um grande favor seu.Preciso de tempo para estudar para uma prova muito difícil. O professor não vai adiar o teste se eu pedir. Quero que a senhora mande um telegrama dizendo que minha tia está mal e eu preciso ir vê-la ainda com vida.
- Filha, a gente não brinca com coisas dessa natureza.
- Mãe, faça isso, eu vou ganhar uns dias para estudar.
A mãe relutou. Tentou encontrar outros métodos de solucionar esse problema, mas quando viu que não tinha outro jeito disse:
- Filha, eu nunca menti na minha vida, vou fazer isso de coração partido.
O que mãe não faz por um filho? No outro dia, o telegrama chegou. Em prantos mostrou ao professor, que com pesar ofereceu-lhe o lenço para enxugar as lágrimas e adiou a prova para a próxima terça.
Jana ganhou sete dias para estudar. Pela primeira vez ela estudou pra valer. Virou noite. Estudou por todo o tempo que vagabundeou. Se passou não sabemos ao certo. Imaginamos que sim, mas acho que nunca veremos seu nome nas listas de aprovados em concursos. Ou quem sabe, ela tenha aprendido a lição e tenha se tornado uma estudante de fato. Inteligência e astúcia não lhe faltam.