Só pra demonstrar minha ambigüidade [entenda-se, raiva] com você, mundo.

No mundo das afetividades e demonstrações de paixões, vorazes ou não, plurais ou não, sempre há aquela voz moral, seja interna ou externa [e tão aterradora quanto à outra] para te mostrar que, sim, o que mais importa é quando você, por sua conta e risco, entende algum movimento, seja ele do concreto ou do subjetivo. Podem gritar, espernear, provar kantianamente. Só vai ter efeito o que partir de você. E, acreditem ou não, meus queridos, é possível que o que for decidido aí dentro seja completamente o oposto do que tanto reclamam, como tablóides sensacionalistas querendo sua atenção e audiência.

Uma paixão [ou tantas quantas você tiver] que fuja aos moldes morais desta nossa sociedadezinha hipócrita já dá pano pra manga, hein. Por que motivos forem: ele é casado; ela é mais alta que você; vocês são um casal homossexual que anda de mãos dadas na rua; ele tem filhos da sua idade; vocês trepam a cada quatro meses porque, afinal, têm saudade um do cheiro do outro. E ali se dão tão bem, entre as quatro paredes que forem…e, pensa bem: neste território particular e tão íntimo [que sempre é, de alguma forma], há defeitos? Há, sim, eu sei. Mas aqueles que todos apontam na sua rotina de vida exposta a tudo e a todos? Ali entram subversões julgadas por seus mãe/pai/terapeuta/amigas/amigos/ex-alguma-coisa? Hein?

E será, meu bem, que tudo isso não é pura invenção [e cuidado, pode toda ela partir de você] para que mais e mais haja problemas, e mais temas, e mais subjetivações para serem pensadas, problematizadas e o caralho? Tanto se conversa indo no rumo da complicação, não o oposto. E deveria ser assim?

Você tenta viver. Ao “máximo” é o que dizem. Mas, olha, eu confesso: muito tento e pouco consigo. Exemplo: aquele olhar que já tem intenções, na sua recepção. Nunca pode simplesmente ser curiosidade alheia, ou simples vontade de se aprochegar e ter uma conversa bacana, porque simplesmente você foi vista por aqueles olhos como interessante. Não, imagina. É um tal de “fica com ele/ela” daqui, “vai, investe” de lá…olha, quer saber? Dá-no-sa-co.

Mas com isso ainda consigo lidar. Afinal, como dizem os mais velhos [cronologicamente], “é da idade”. O que realmente me emputece são os pitacos sobre algum caso que você tenha e, sim, se arrasta por mais de ano. E, cara, se você percebe que isso é uma das coisas mais preciosas que tem na vida e que te tira o fôlego justamente por ser tão volúvel, instável, imprevisível!? A magia de ficar longe por meses e, ao se reencontrarem para uma noite luxuriosa com o mesmo brilho nos olhos: e não deveria ser por esse brilho, minha gente, que deveríamos nos encantar e fazer poesias melosas que nos preencheriam a alma? O enlace de sempre, a magia de sempre, a cumplicidade que ninguém, NIGUÉM lhes pode tirar, mesmo o tempo? Não é justamente o que tantos reclamam na vida, a tal previsibilidade, seja do outro ou a própria? E aí? Faz-se o quê com isso? É, realmente, da boca pra fora de tantos e tantas? Devo me utilizar da melhor expressão pra demonstrar minha raiva: “Cê jura???????”.

Demagogia estampada na cara dessa corja toda, então? Há-há-há. Só me resta rir mesmo. Enfim…dá raiva perceber certas coisas, inclusive, depois de tanto choro, tanta reflexão e, simplesmente, deixar a poesia de lado, mais uma vez, quando ela poderia estar aqui, dormindo comigo, aconchegada no meu travesseiro, nas suas mais variadas facetas e formas. Porra.

E não cabe tudo que eu gostaria de falar, gritar, espernear, em resposta à toda a falácia que me vem sendo gritada, esperneada, chorada, aludida, etc, etc, etc. Sem fim. E sei também que não por esse texto será o fim de toda essa perturbação, mas é um início ao menos, no sentido de nutrir a força necessária para que nada além do que for meu entre aqui. De qualquer lado que seja: mãe, terapeuta, amigos, mãe de santo, tudo. É um exercício, eu sei. E tentarei.

E, quem sabe, mesmo que aos olhos alheios eu seja vista ambiguamente como a “pessoa que sonha demais” ou “poeta alienada” ou o que for [você também pode criar algum rótulo aí], eu escolho e sempre escolherei a poesia. Esta não no sentido romântico. Também, mas não só. Há possibilidades sem fim de fazê-la. Realista ou não, alienada ou não, se houver dela doses diárias, a vida se engrandece, espontaneamente. E seria lindo, de verdade, poder caminhar com ela ao lado, tão rica. Pra quê a vida chata e sem magia dessas vozes que chegam a mim, com uma receita, um prontuário certinhos do que fazer e como fazer?

De vida chata, já basta ver às pencas todos os dias. Olha, prefiro o risco da incerteza à previsibilidade dos meus dias. Viver, sim. Sem intensidade, a troco de quê, me diz?

Lorene
Enviado por Lorene em 08/11/2011
Código do texto: T3324150
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