SOLIDARIEDADE

O romance estava a todo vapor e os encontros clandestinos cada vez mais freqüentes até entrar o amante na jogada. Ela tinha conseguido arrumar um amante.

Podia acontecer de tudo, menos isso. Ela que sempre jurou amá-lo até o fim dos seus dias. Era uma coisa louca. Frenética. Neurótica.

Mas, ele estava lá. O amante.

O que fazer? Não tinha mais apetite. Faltava vontade de viver. Apático. Como se algo estivesse lhe sufocando.

Mundo cruel. As tardes acaloradas de amor tinham ficado no passado. Sentia falta daquele cheiro, daquela pele. Ela era só sua, sentia isso em toda plenitude da segurança do amor.

A lascívia eletrizava os seus corpos quando faziam sexo. Era entrega total. Uma coisa selvagem. Depois o descanso de felinos após o coito. Eram insaciáveis, incansáveis debaixo dos lençóis.

Mas, agora surgiu entre eles aquele estorvo. Saiu do nada para estabelecer-se no meio da trajetória da sua vida. Não estava acreditando. Pensou que seria apenas um desvio de curso, que poderia ser retomado em poucos dias, mas já duravam duas semanas, desde o dia que interceptou um e-mail dela. Ele monitorava o bate-papo da amada na internet, sem o conhecimento dela.

Até acender o sinal vermelho e depois a partida para o sofrimento. Desastre total. Impossível. Ele sabia da sua grande capacidade de atender todos os desejos dela. O que será que outro tinha de especial? Nada. Não tinha nada. Aquilo era um sonho ou pior, pesadelo. Mas até pesadelo passa.

Não, estava ali, enraizado no seu juízo. A cabeça prestes a estourar. A fronte fervia.

Tinha que tomar uma decisão imediata.

Uma decisão drástica. Definitiva. Aquilo tinha de acabar de uma só vez.

Era agora ou nunca.

Foi até o computador e enviou um e-mail para o marido dela.

CUIDADO! ESTAMOS TOMANDO CÔRNO!