HOSPITAIS, REMÉDIOS, INFECÇÕES E OUTROS AIS
Primeiro foi o meu irmão com um câncer no início deste ano. Com prescrição para quimioterapia recomendaram- lhe um remédio de uso doméstico de última geração ao preço de 500 reais cada comprimido (28 por mês) e o resultado dele foram apenas os efeitos colaterias, que mais se assemelhavam a uma sessão de tortura física. Minha suspeita é de que ele tenha sido uma cobaia de um medicamento novo na praça. Pesquisei sobre o remédio na internet e não vi um relato sequer de alguém que tenha se valido dele para a cura ou para um freio no progresso das células cancerígenas. No mais, ele sofreu todos os efeitos devastadores possíveis e inimagináveis antes de falecer dois meses após iniciar a quimioterapia. A anamnese não é mais levada muito em conta diante da gama imensa de medicamentos disponíveis. Médicos diferentes não tem a menor cerimônia em irem modificando o que o anterior prescreveu. Não costumam levar em conta nem o que um medicamento pode causar de novos males e nem se você tem condição de adquirir hoje e jogar fora amanha e adquirir outro e mais outro e mais outro. Li no site do Drauzio Varella que, para cada medicamento há outro para combater os efeitos danosos que ele causa no organismo. Uma bola de neve sinistra.
Agora, o meu pai num procedimento médico de baixo risco (elevou-se um pouco por causa de sua avançada idade), com uma saúde geral bem boa, é vítima de uma infecção hospitalar fulminante e cujo controle a gente vê os hospitais anunciarem com muita pompa mas com pouquíssima efetividade nas ações de prevenção por parte de seus funcionários e de seu funcionamento interno.
Eu acho excelente a idéia de cortinas que abrem com controle remoto, ar condicionado nos quartos, TV a cabo com dezenas de canais, frigobar, leitos que giram até 360 graus e reclinam como camas contorcionistas, banheiros adaptados para todas as necessidades de pacientes e acompanhantes, assistência nutricional, psicológica, espiritual, mas não encontro nenhuma efetividade para o tratamento humano de saúde quando vejo pessoas carregando lixo nos mesmos elevadores que transportam pacientes, enfermeiras que entram nos quartos para dar remédios, trocar curativos ou aplicar soros nos pacientes e não tem o cuidado sequer de fazer assepsia nas mãos ou usarem luvas, por exemplo. Isso é o que pude constatar acompanhando os dois que agora descansam imunizados pela morte.
“Mesmo com minhas mãos querendo torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e, sinceramente, chora”
(Fado Tropical – Chico Buarque)