Através do espelho
Adentrei. Através do espelho, diretamente na sala de (mal)estar, aterrisei em meu sofá. Desconfortável e desarrumado, com as almofadas bagunçadas - a barba e a vida por fazer.
Vi meus canteiros - d'alma - e minhas flores por regar - e negar. Naquele (a)mar adentro não há em quê se agarrar - ou mesmo o que aguardar. Olhos nos olhos, apenas a mente sã é capaz de penetrar. O caos permanece uma ordem desconhecida àquele olhar.
Ela não (nunca, jamais!) saberia, mas a vi aqui também. No caos desassossegado; nas roupas em cima da cama, que não entraram nas malas (de quem não saiu de si mesmo); nos remetentes a quem nunca ousei remeter - e a olhar de lado, renitente, silenciei e renunciei o querer.
De algum modo, verdadeira(mente), acredito que ela sempre soube que estava aqui. A garota tem olhos penetrantes. Sequer pediu licença ou tocou a campainha - nem precisava, (sincera)mente. Ainda por me (re)fazer, abri-lhe o portão. Sorri, então.