Amanhã

Ainda entorpecido pela solidão de ontem, acordei com a triste preocupação com o amanhã, motivado pelas palavras do poeta e cantor paraibano Chico Cezar, quando diz em uma de suas lavras: duas coisas me preocupam – a bondade do homem mau e a maldade do homem bom. Nascer e viver num pais onde cresce, de maneira avassaladora, o contingente dos primeiros e, de forma sutil, sem fazer alarde, os segundos inebriam, solapam e enganam milhões de desvalidos, causando espanto e medo de viver na terra-mãe. Houve época, não tão distante, quando os ímpetos da juventude não me deixaram pensar, sobre o que os macro-gestores do meu país bradavam alto e em bom tom: Brasil ame-o ou deixe-o. Na minha humilde ignorância no tempo pretérito, não soube aproveitar as vozes do comando central. Na época, eu tinha gás (como se diz na gíria) para o alerta das autoridades de então. Passados tantos anos, hoje, na terceira idade, analiso a perda da oportunidade que me foi dada. Tenho pena e medo do futuro para mim, para meus filhos e para os possíveis netos que hão de vir.

A violência e a corrupção estão presentes no nosso dia-a-dia e não adianta construir cadeias públicas para tentar conter a escalada da violência, pois para elas serão encaminhados milhares de brasileiros, os mais humildes, enquanto que os reais responsáveis pelos delitos, para minha tristeza e alegria deles, estarão sempre livres, como se fossem absorventes femininos que se usa uma vez e joga-se fora. É incrível constatar que os “sempre livres”, contrariamente ao que se sabe em relação aos absorventes, eles estão sempre voltando com eficiência e eficácia revigoradas. Para minha indignação e de outros tantos milhões, a festa continua e o país vai afundando num abismo difícil de prevê sua profundidade.

Até hoje, não tive a oportunidade que teve D. Marisa Letícia, a de conseguir uma segunda cidadania para seus filhos e netos, porém, se essa oportunidade me for dada, não tenham dúvidas, prefiro morrer noutro pais, pois tenho vergonha do Brasil, até quando chegar um novo amanhã houver.

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 06/11/2011
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