BOM DIA.

BOM DIA

Bons dias. Isso mesmo, bons dias aqueles da minha infância na minha pequena cidade. E naqueles tempos os representantes de laboratórios apareciam como ainda hoje, nos consultórios dos médicos, com suas grandes malas de remédios, convencendo doutores, urbi et orbi, dos miraculosos poderes curativos de suas drogas. Eu achava tudo aquilo fantástico, lá pelos meus 8 ou 10 anos. Chegar ao consultório do meu pai um homem que sabia tanto sobre os remédios. Que dizia sem nenhum tropeço que naquela medicação havia uma poderosa dimetilaminofenildimetilpirazolona; e eu cismava, só pode ser mesmo milagre caber em uma pilulazinha daquela tanta química e ainda mais farmaco-dinâmica, tempo de plasma, e reações adversas, juntamente com sua posologia. Anos dourados, alopatia, e ainda havia aqueles médicos que receitavam por fórmulas; nas farmácias as balanças de precisão e a vidraria, poções fumegantes de drogas mágicas, a produzirem suas receitas.

Não, não, não. Que fôssem mesmo e de agora adiante ainda homeopatas. E na praça bradava aquela perua linda, com seus grandes alto-falantes sobre o teto; nas laterais, na frente e no fundo escrito ´Melhoral´ em letras garrafais. - Venha, menino, canta aqui ´Melhoral´, ´Melhoral´ é melhor e não faz mal,... para ganhar um lindo brinde!...

Fui lá, e ganhei aquele lindo tapa-sol, uma aba de boné de papelão, borrachinha que repuxava o cabelo na hora de prendê-la na sua cabeça, e as letras enormes para ficarem sobre sua testa gravado ad eternum, ´MELHORAL´. ´Melhoral´, ´Melhoral´, é melhor e não faz mal.... Ah! já me esquecia,... ainda hoje sou fã incondicional dos programas promocionais e da publicidade; ainda mais quando a serviço de um mata-fome vero, ou principalmente, quando se destinam a alinhar os esforços do país continental na busca do crescimento com desenvolvimento social e econômico.

Hoje, como naqueles tempos de criança, não gostaria de ver frustrados os meus sonhos e a fantasia de ganhar um lindo brinde. E já se divulga que as taxas de crescimento do PIB para o ano de 2006 estão sendo revistas para baixo, e também que as equações para o crescimento que foram ditas, há apenas dois meses, como perfeitamente conhecidas, agora já apresentam parâmetros que se desconhece. Alô, alô, Marciano, agora sou alopata e a transição que reservou a homeopatia aos homeopatas, se deu mais de 100 anos antes da minha infância, com Hahnemann . Que a homeopatia (similis similibus curantur) prossiga na Medicina como alternativa de terapêutica, tudo bem. Afinal, se sobreviveu à maciça investida da modernidade deve ter sua eficácia. Mas, nesse período, eu que não me dediquei à profissão do meu pai, aprendi outros preceitos.

No Planejamento Estratégico das Empresas, sabemos das necessidades de revisão de planos, consequência da flexibilidade que as mesmas devem ter para superar suas dificuldades e seus desafios. E de fato, efetuamos tais adaptações. No entanto, conservamos sempre o referencial original para não perdermos de vista onde pretendíamos chegar e para podermos avaliar o nosso desempenho como gestores. Se alteramos homeopaticamente os nossos referenciais nunca estaremos cometendo erros significativos, mas também não saberemos, ao longo do tempo, aonde estaremos chegando.

Como os leitores percebem, sou de um tempo ranzinza. Sou do tempo em que os objetivos dos planos eram mesmo para serem alcançados. Não eram cortina de fumaça divulgados para propalar façanhas que não realizei, e muito menos, para que acreditem que tenho diferenciais que não tenho. Vou concorrer pela segunda vez na vida arriscando-me a ganhar um brinde. E vou logo avisando que tapa-sol eu já ganhei, quando ainda era criança, e tapa-olhos eu não quero. Os convido a terem uma ótima semana.

Marco Bastos