ENCONTREI O MEU AMIGO DE NOVO...
 
Esses dias, eu me encontrei com um velho amigo, que há muito tempo não via. O prazer de vê-lo me contagiou. Ri, quando o vi, e corri em sua direção, como se menino fosse. É que ele é daqueles amigos que, apesar de passarmos muito tempo longe um do outro (quer dizer: eu longe dele), no dia em que nos vemos – por um acaso (mais uma vez, sou eu o culpado de ser “por acaso”), o encontro se transforma em festa e deixamos de lado o protocolo comum a gente grande.

Desta vez não foi diferente. Como a agenda estava flexível, resolvemos que a conversa apressada “do meio da rua” poderia ser trocada pelo espaço reservado de um banco – desses de madeira – que tinha ali pertinho, inclusive, em um local agradável, de muita paz e ótimo para uma boa conversa.

Fomos. Lá (eu acho que ouvi), ele me pediu para que eu falasse sobre a família. A minha, claro. Contei-lhe sobre os filhos, como estavam a cônjuge, o meu dia a dia e as minhas realizações pessoais. Enfim, fiz um resumo dos meses que ficamos sem notícia um do outro.

Ele sempre ouve o que eu falo. Nem sempre tece comentários. Só se eu lhe pedir. Desta vez eu não pedi. Então, ele apenas ouviu. Acho essa discrição dele muito interessante. Só se mete na minha vida se eu lhe pedir. E o mais curioso é que ele, quando conversa comigo, sempre tem alguma coisa para me dizer que, se eu prestar bem atenção, casa perfeitamente bem com tudo aquilo que eu acabei de lhe relatar. Acho que ele tem o dom de aconselhar, sempre através do que escreveu. E, olha, não foi pouca coisa não.

Mas, voltando à nossa conversa desses dias, eu lhe fiz algumas revelações e ele apenas sorriu. Disse-lhe, por exemplo, que estava muito satisfeito com alguns projetos – pessoais e profissionais– e que, parecia, eu estava vendo quando eles começaram a acontecer, como o meu pensar se voltou, justamente, para ele. Era como se eu tivesse pedido diretamente para ele, que, mesmo não tendo me visto muito nos últimos tempos, conseguiu dar “uma ajudadazinha” naquilo que, certamente, em me fazendo feliz, não prejudicaria ninguém.

Depois eu lhe falei sobre algumas perturbações. Eu lhe disse que, apesar “da maré boa”, sempre tem alguma coisa que acaba por nos perturbar. E é neste ponto que eu sempre procuro respostas, mas, na maioria das vezes, eu não as encontro. Mais uma vez, eu tentei lhe explicar o que significavam essas perturbações. Perguntei-lhe por que é que, às vezes, na presença de certas pessoas, nos sentimos com um peso enorme nas costas, como se algo nefasto estivesse nos rodeando e/ou por que, em determinados locais, o ambiente se torna tão pesado que as nossas energias são exauridas rapidamente e o que nos resta é a vontade de sairmos dali imediatamente.

Perguntei-lhe se isso era devido a essa tal de dualidade que, a partir da presença de dois princípios completamente opostos, contrapõe-se em escalas, tornando-nos seres que, ora agimos com um lado espiritual muito forte e, em outros momentos, apenas nos atemos à nossa existência material, carregada de significados extremamente negativos.

Pensei mais uma vez em tê-lo ouvido falar alguma coisa. Mas, eu acho que não. Acredito que, se ele fosse me dizer alguma coisa, eu acho que ele falaria através de uma história. Ele tem o costume de falar assim.

Mas, não quis me aprofundar em coisas que eu levaria muito tempo para entender. Ri para ele e disse que aceitava a vida como ela é. Gosto que haja esse equilíbrio de forças. Apesar de me perturbar, às vezes, e ter dificuldades para lidar com pessoas que sentem inveja, que têm ciúmes, ou se acham melhores do que as outras – e, por isso mesmo, estão sempre querendo empurrar, para baixo, gente que está querendo, também, um lugar ao sol –, eu aprendi a ver as coisas com os olhos de quem entende que um dia é da caça, outro é do caçador; que o sol nasce para todos e que depois da tempestade, sempre vem a bonança, etc. e tal. E, por último, olhando para o meu amigo, eu lhe disse que confiava na melhor das justiças: a divina. Ela até pode tardar, mas nunca falha.

Olhei para o relógio. Estava na hora de me despedir dele. Confesso que vi, quando lhe disse a última frase, um sorriso maroto em seu olhar. Engraçado, tem horas que ele se deixa ver tão angelical que eu penso que ele é santo. Dei um tchau e saí. Quando pisei o patamar do local onde estivera a pouco, a tarde estava mais agradável e eu me senti muito bem. Otimamente bem...


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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 06/11/2011
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3320313
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