Tan -tararan tan-tan

Tan-tararan tan-tan. Tan-tararan tan-tan. Lá vai o menino ladeira acima na procissão.À frente,o homem do tambor.Meio-índio,meio-negro,atarracado,batendo o tambor com seus bracos de roceiro e alma pura.O menino fotografava tudo.A mãe arrumara-lhe o traje todo branco.Pureza de crianca.Chapeuzinho branco com as abas bem engomadas com polvilho e água na quentura do ferro `brasa. Eram duas filas seguindo.No meio o andor.S.Benedito majestoso,florido,sorria pro garoto de terno branco de linho engomado,comprado de 2a mao,mas era bonito!A mãe e o pai,com tantos filhos não conseguiam suprir tudo.As congadas vinham bem atrás,depois da banda*Aurora Aparecidense*.Os homens da congada eram só cores,cores mil,guizos,espadas de madeira,quepes brancos com fitinhas.O menino tudo observava com olhos vivos,pensando no depois. Doces,muitos doces,cachorro-quente de linguica pura,pimentão,cebola tomate num molho gostoso que só Da.Santa sabia fazer. E todo ano era o mesmo sabor:Divino! A carroca do tempo cruzou os céus em busca do fogo divino com seus 4 cavalos alados e as 12 rodas da vida............Setembro de 2004.Domingo de sol,Parque da Água Branca/SP. Um senhor de 60 anos adentra-o com certeza de encontrar coisas gostosas na festa da Cultura Popular Paulista.Muita,muita gente...Caminhando entre árvores,com a paz do ambiente,eis que um som de tambor aguca-lhe os sentidos:tan-tararan tan-tan.O som vai aumentando e os passos também.A vida nos prega muitas pecas.Lá estava o som infantil,a mesma procissão com a imagem de N.S.Aparecida,mundão de gente cantando fervorosamente e o senhor,como num passe de mágica,virou crianca novamente.Quando se deu conta,estava ao lado da imagem,atônito,com o som a lhe falar na memória:tan-tararan tan-tan.Os ráio de sol por entre árvores iluminavam aquele cenário como que abencoando a todos.O menino-homem seguia constrito tentando segurar as lágrimas e as batidas fortes do coracão que acompanhavam os sons dos tambores.Um homem miúdo,meio-negro,meio-índio,tocava com forca o tambor,mostrando um sorriso puro de alma lavada.Uma mulher,miúda também,carregava um estandarte cheio de fitas coloridas.Uma negra atarracada,toda de vestes brancas,com uma faixa no peito-*Rainha do Congo* A procissão parou na arena central do parque para despedir-se de N.S.Aparecida.Uma orquestra de violeiros tomou o lugar da *Aurora Aparecidense*.Saudacões,cantos,discursos e muitos viva! O senhor atônito,sonhava.O menino incandescendo de alegria queria comer os doces e o cachorro quente de linguica com aquele molho de Da.Santa.Os dois,depois de abencoados pelas oracões,seguiram rumo ao *Rancho dos Tropeiros* O senhor tomou *cachaca da boa*.O menino não encontrou mais os doces,nem o cachorro-quente.O senhor comeu torresmo e pacoca.O menino não ficou triste,apenas olhou o sol se pondo e foi com ele para um giro da roda da vida em busca do fogo eterno.O senhor sentou-se,proseou,contou histórias de menino,da infância.Um touro grandão,enorme,sentado nas pernas,mastigava tranquilo,com um olhar de candura na aceitacão de sua condicão.Violeiros em grupos cantavam cancões gostosas que o senhor ouvia para deleite de seu coracão.Aquele cheirinho de fumaca do fogão à lenha,mais uma *cachacinha da boa*,mais um *causo*,sorrisos transparentes.A noite caiu. O teatro da vida desceu os panos encerrando mais um espetáculo.O senhor tomou tento e seguiu em direcão ao centro para curtir sua solidão.

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 05/11/2011
Código do texto: T3318211