Navegando
Vovó sempre dizia que eu era um barquinho no mar da vida. Naquele dia eu realmente me sentia um barquinho no meio a uma tempestade, a ponto de naufragar.
Eu estava no meu quarto, que deveria ser meu refúgio, com a janela dando para o mar.
Mas, até o mar, meu fiel amigo mar, estava revoltado. A brisa suspirante dera lugar ao vento forte, as ondas quebravam com violência e o céu era de um cinza intenso, quase negro, embora ainda fosse de tarde. A paisagem refletia meu estado de espírito, como se aquele fosse um retrato de dentro de mim.
Ah!, se vovó estivesse junto de mim, e eu pudesse me aninhar em seu colo, como um bebê... Mas seu barquinho partira para além do horizonte, onde meus olhos não podia alcançar.
Uma lágrima brotou de meus olhos, seguida por outra, e mais outra, até que eu me visse aos prantos. Cada lágrima se dissolvendo no seio do oceano, parecendo acalmá-lo, devagar.
Aos poucos, a brisa suspirante retomou seu lugar e o mar voltava a ser um leito de paz. As nuvens escuras davam lugar a um céu alaranjado, recendo acalmá-lo. O vento já não era tão frio - e o meu coração também não.
Foi então que notei que por mais que durasse, ou parecesse durar, uma tempestade nunca duraria para sempre. Desistir não acalmaria as ondas, somente tornaria o naufrágio mais rápido. E não, eu não queria, eu não podia naufragar. Enxuguei as lágrimas, me enchendo de coragem. Aprumei meu barquinho e me pus a navegar, deixando-me levar pela correnteza, rumo ao horizonte, onde só os olhos do futuro seriam capazes de enxergar...