O rosto desfigurado

Ano passado (2011) eu estava no mercado central de Manaus, e aprendi uma lição:

Um garotinho de uns dois anos, muito bonitinho e gracioso, brincava no colo de um rapaz, bem à vontade, e conversava com ele. O rapaz fazia gracinhas para o menino, que ria feliz da vida.

PErcebi que o rapaz não era o pai. Este estava fazendo compras enquanto o jovem, que me pareceu estar ajudando o homem, carregava no colo o pequeno.

Entre aquele garotinho e o rapaz havia uma intimidade boa e alegre, pareciam dois amigos ou irmãos. Nada parecia distanciar um do outro.

A naturalidade daquele menino e do rapaz era algo singelo.

E daí, qual a novidade?

Daí, que o rapaz que brincava com o menino tinha um lado do rosto completamente desfigurado, com um grande mancha que causava primeiro medo, depois dó.

Não sei se foi queimadura ou outro acidente, mas o rosto daquele rapaz, para outros, com certaza era motivo de repulsa ou comiseração. Eu mesmo me assustei e não tinha coragem de olhar para ele. Meu olhar insistia em fugir da direção do rapaz, por causa da deformidade. Uma vergonha pra mim, eu sei.

Mas, não aquele menininho. Eles eram simplesmente duas pessoas que faziam gracinhas.

A minha lição? Vi que o deformado era eu.

Eduardo Escreve
Enviado por Eduardo Escreve em 04/11/2011
Reeditado em 07/11/2011
Código do texto: T3317396
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