Negócio fechado!

inspirado em fatos...

Tem coisas que acontecem com os outros também eu sei, mas que por momentos achamos que só acontecem conosco.

A vida aponta e marca algumas pessoas pra que estas passem por alguns tipos de situações, ora cômicas, ora trágicas, ora ora...

Existem também os beneficiados pela vida, que estão meramente como espectadores de alguns tipos de situações, destes tipos de situações, da situação. São coisas que não podem acontecer nem por um caralh#%@*¨ naquela hora, a não ser que seja com os outros, mas que acontecem por obra da sacanagem do destino

Então o acaso aperta tua mão rindo e diz...

“Eu não tenho nada a ver com isso”

Meu amigo de todas as horas e compadre sempre me liga. Quase todos os dias, ele é único, é o melhor. É um momento feliz do meu dia receber sua ligação, conversar sobre a vida, falar de coisas corriqueiras do cotidiano. Então, paro tudo que estiver fazendo – tirando sexo ou reuniões importantes – para dar atenção especial ao meu camarada. Às vezes conversamos por horas ao telefone achando que falamos apenas uns minutos, é promoção de telefonia celular sabe: cadastre dois números e fale a vontade, uma das boas invenções do homem depois das lentes de contato.

Ocorre que, certa vez ele me ligou quando eu não podia falar. Fiquei triste por duas coisas: por não poder falar, e pelo que aconteceu depois, o fato resultante desta ligação que eu sequer atendi.

Estava no meio de uma reunião de suma importância, era fechamento de negócios que trariam grandes lucros a Cia, com um grupo de investidores altamente conservador e exigente, um pessoal com um terno super alinhado que chega a dar medo. Estava a ponto de sacramentar o fechamento, passar a régua no que seria a obra de arte das negociações, muita argumentação e debate de idéias, lábia afiadíssima, porém – poréns atrapalham tanto a raça humana - ainda havia uma pulguinha atrás da orelha do “cabeça do grupo”, o “manda chuva” dos investidores, o homem da “nota”, o fulano da caneta de ouro. Seria alguma atitude que eu havia tomado? Alguma postura inadequada? Algo que tivesse dito? Ou era simplesmente minha cara que não inspirava confiança? Será que estava com o cabelo despenteado? Feijão no dente? Nem eu nem eles sabíamos, mas eu precisava convencê-los, e eu já estava ficando tenso. Fechar grandes negócios requer grande jogo de cintura.

O fato é que eu precisava de um “algo mais” pra fechar o negócio.

Gente...

A tecnologia ajuda, mas também te ferra, bem como a ligação de um amigo que te anima ou te arrasa, são os dois lados da moeda.

Explico...

O toque do meu telefone é o de uma mulher escandalosa gemendo, personalizada para o número dele, pois assim já sei que é ele. Achei deselegante personalizar este toque para minha esposa. Sempre coloco no modo silencioso antes de entrar em uma reunião ou então desligo o telefone dependendo da importância dela (deixa minha empresa saber disso, pra eles reunião é reunião, tudo tem a mesma importância), mas esta vez esqueci de desligar. E ele tocou justamente em plena reunião, no momento auge do convencimento, no clímax.

Meu Deus... Eu pensei... Isto não pode estar acontecendo...

Celulares as vezes inventam de tocar nas piores horas.

“-Cala a boca vaca...”

Um modo desesperado de pedir pra meu amigo, mentalmente, desistir de falar comigo.

Não é o meu telefone! Não pode ser! Mas quem, naquele grupo, teria um toque exatamente igual ao meu e tocando tão perto de mim?

Pensa rápido... Preciso desligar essa por#@%¨#* antes que isso destrua minha vida (que exagero né, alguns devem estar pensando), mas não é, é drama puro. O negócio era importante pra Empresa e pra minha carreira.

Então tentei apavoradamente desligar, numa corrida sagaz contra o tempo, um sorriso amarelo na face, a cara incendiando, e os cabelos arrepiados. Mas não conseguia pegá-lo, não conseguia encontrá-lo na minha “politicamente correta” bolsa, (correta só por fora), pois ela estava entulhada de coisas, papéis, palavras cruzadas, notinhas amassadas que vão se acumulando ao longo da vida a cada vez que você usa seu cartão de débito, uma caneta estourada, Putz! Nessa hora você encontra tudo que você não precisa e nem sabia mais que estava ali, essas coisas reaparecem no meio de reuniões importantes, até a dentadura da tua avó você encontra se duvidar, menos o telefone pra desligá-lo. Pra piorar, com o nervosismo, as coisas começam a cair no chão, ninguém no grupo dá um sorrisinho, ao contrário, fecham o semblante, franzem a testa, e com impaciência começam a se mexer em suas confortáveis cadeiras.

“-Querem um café?” Eu pergunto.

Um acenar de cabeça negativo insuportável é a resposta.

O cara das “verdes” o “olho puxado” da conta bancária gorda já guarda sua caneta dourada na bolsa – é o indício número um de negócio não fechado – o outro ajeita minuciosamente sua gravata, é outro apontador clássico em reuniões empresariais de que as coisas não vão bem, pois é diferente você ajeitar a gravata em frente a um espelho antes de ir a uma festa, e ajeitar como o japonês lá estava fazendo. Como quem diz:

"-Vamos sair logo daqui..."

E Japoneses parecem que ficam mais escandalizados com algumas situações do que o restante do mundo. Não discutamos cultura agora, deixemos pra uma próxima ocasião.

Uma vergonha total, pra não falar um desastre. É como se você estivesse jogando e ganhando de 5X0 e deixasse o outro time virar pra 6X5 nos cinco minutos finais de jogo. Derrota completa!

E o toque do celular é alto pra cacete.

A mulher lá gemendo e gemendo freneticamente sem parar, e eu nada de conseguir achar o celular dentro da bolsa.

Quando finalmente consegui encontrá-lo, a mulher já tinha praticamente gozado e acabado com a minha reputação.

Eu não sabia onde colocava a minha cara.

Um constrangimento evidente.

E o fim de tudo.

Uma nova parceria e relações de negócios acabou no início devido a uma mulher histérica desconhecida.

Bom, o negócio não foi fechado claro.

Os japas nem sequer apertaram minha mão na despedida.

Os milhões não entraram na Cia.

A desculpa pro não fechamento do negócio que eu dei à alta direção da Empresa foi a coisa mais esfarrapada do oriente médio.

E pra terminar precisei de um ombro amigo pra desabafar e me consolar... o do meu compadre.

Tentei ligar, mas só dava ocupado!

Prof Cristiano Cruz
Enviado por Prof Cristiano Cruz em 04/11/2011
Reeditado em 05/11/2011
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