Faça o bem e não olhe a quem

FAÇA O BEM E NÃO OLHE A QUEM...

Marieta trabalhava numa empresa no tempo que tratar bem cliente era favor. Os funcionários públicos entre os anos 80, 90 por gozarem de estabilidade não tinham interesse em fazer jus ao salário que recebiam. Na empresa privada por sua vez não existia a competitividade de hoje e o cliente não era visto como um potencial ativo da empresa como atualmente.

Marieta por ser uma pessoa educada, responsável, consciente atendia prontamente a clientela, de forma que era reconhecida por aqueles que lhes procuravam e recompensada com doces, bijuterias e lembracinhas.

As pessoas idosas principalmente gostavam de ser atendidas por ela. Era paciente, sabia escutar e desembaraçava facilmente os problemas que cada cliente lhe trazia.

D. Verediana era uma senhora octogenária. Cabeleira grisalha, já não andava com muita desenvoltura e a memória não era mais tão boa. Mesmo assim, estava todo mês pessoalmente na empresa para resolver assuntos referentes a documentos, pensão, cadastramento e outros protocolos. Recebia um valor irrisório que justificava seu jeito simples de se portar e vestir. Não tinha filhos e por isso nem netinhos para lhe acompanhar. Com muito sacrifício resolvia sozinha todos seus negócios.

Quando Marieta faltava, ou era remanejada para outra tarefa, D. Verediana passava por maus momentos. Ninguém queria lhe atender. Ela falava baixo, custava a assinar, não sabia explicar direito o que pretendia e todos se esquivavam de atendê-la.

Por outro lado a D. Mariquinha era paparicada por muitos funcionários ao mesmo tempo. Ela era madame da cidade. Mulher de muitas posses. Seu jeito mal educado passava despercebido pelos ouros e pratas que ostentava. Tinha dinheiro e tinha poder. A coisa era diferente.

Nos 85 anos de D. Verediana, a gentil funcionária foi convidada para um almoço. Por insistência de sua cliente e por respeito e amor aquela humilde criatura, Marieta se sentia obrigada a comparecer a festa. Anotou o endereço, comprou um presentinho, e ao chegar na dita rua, encontrou dificuldade de encontrar a residência que procurava. Só havia mansões. Deveria ter se enganado ao anotar o endereço. Mas para surpresa sua, estava diante da casa da aniversariante. Um palácio. Ela muita bem vestida. Diferente de como se apresentava no dia-a – dia. Usava um colar de pérolas que lhe dava mais ainda um tom de elegância. Surpresa maior foi ao ser apresentada aos seus irmãos que eram, médicos, doutores, juízes e autoridades nas cidades vizinhas. A octogenária se justificava diante do seu novo visual. Insistência dos sobrinhos, mas ela não gostava de ostentação.

No dia seguinte ao chegar ao trabalho, Marieta contava aos colegas a surpresa que tivera. Atrás daquela simples criatura, se escondia uma poderosa mulher, com muitos bens, propriedades administradas pelos parentes que moravam nas redondezas.

D. Veridiana estranhou o tratamento que tivera ao retornar a empresa. Todos queriam atendê-la. Insistiam que trouxessem seu capital para aquela agência. Até o gerente foi ter com ela. Passou a ter tratamento diferenciado.

Mas para ela nada mudou. Continuava fiel a Marieta. Ela lhe atendia desinteressadamente. A ligação entre as duas já era bem mais que uma relação profissional. Tanto é que antes dos noventa, deixou esse mundo fazendo uma grande surpresa para todos. Deixou em seu testamento parte de seus bens para Marieta, que descreveu em uma carta como a melhor profissional que conhecera, tanto que lhe considerava amiga e filha.

E terminou a missiva, explicando as dificuldades de um idoso, a carência de carinho e afeto mesmo quando se têm filhos, mas que ali e acolá as Marietas aparecem para minimizar as dificuldades e adoçar suas vidas. Finalmente sugeriu que todos os funcionários se espelhassem naquela criatura, humana e solidária, que foi muita importante para ela nos últimos anos nesses últimos anos de sua vida.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 30/12/2006
Reeditado em 31/05/2020
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