“Serenata de amor”
Essas paixões quando se é jovem demais nos deixam recordações eternas, além do que nos divertem bastante, ou não.
Lembro-me que certa vez eu me apaixonei, mais uma vez... Pois sempre disseram que eu era um rapazinho de paixões intensas e passageiras- Pura mentira esse negócio de “passageiras”. Eu realmente me encantei por uma menina da escola. Eu nem tinha barba ainda, nenhum fiapo para me fazer parecer o “carinha” da 8ª série, pois naquela época eram os garotos da 8ª série que faziam sucesso. Eles nos roubavam todas as meninas da 5ª e 6ª séries e a gente ficava com cara de mamão- meu pai sempre dizia isso. Eu sempre fui a favor de que as meninas da nossa sala só poderiam trocar beijinhos conosco, era um sinal de cumplicidade. Mas por algum motivo que até então não sabíamos elas não nos queriam... Talvez porque nós não tivéssemos barba! Na faculdade eu consegui entender o porquê graças a um sábio professor amigo que me disse assim: “Nobre Pedro, as mulheres buscam duas coisas num homem antes de amá-lo: O status e o poder”! Aí eu já saquei logo... Os garotos da 8ª série preenchiam os requisitos propostos pelas meninas... Tinham o status de estarem algumas séries na nossa frente e terem barba- é, porque a barba era sinal de status... Tire por Jesus, São Pedro... Dizem que Deus também tem uma barba imensa- E ainda tinham o poder... Eram mais fortes e altos e saqueadores de lanches também!
Bem, passamos esse tempo todo perdendo nossas garotas para os bárbaros da 8ª série e a que eu me apaixonei eu perdi também. Porém, os anos passaram e nós chegamos a 8ª série... As férias de Dezembro e Janeiro acabaram. Quando chegamos ao primeiro dia de aula, que adentramos na escola, sentimos aquele cheiro diferente... Como garoto de 8ª série você respirava diferente, as meninas nos olhavam diferente e você começava a ser respeitado. E bem no primeiro dia de aula eu avistei a menina, aquela paixonite da 5ª série que havia me trocado por um ogro do último ano do ginásio. Ela era uma ingrata... Dois anos eu sempre olhando para ela, comprando aquele “serenata de amor” e colocando na lancheira dela sem ninguém ver e ela nunca me notou... Que ingrata! Mas por algum motivo ela me olhou no primeiro dia de aula! E eu que havia dito que nunca mais olharia para ela e ainda iria pedir todos os meus chocolates de volta me rendi aos lindos cabelos pretos dela. Entramos na sala e sentei junto aos meus companheiros... Éramos quatro: Fernando, Anderson, Eduardo e eu. Tínhamos todos a mesma idade e passamos pelos mesmos dramas da idade, menos Fernando. Fernando sempre foi um aluno da 8ª série em todas as séries mais remotas... Devia ter uns 3 ou 4 anos a mais que os outros! Eu comecei a dizer que ela estava olhando para mim diferente, daquele jeito que ela olhava para os caras da 8ª série e eles me encorajaram a chegar perto dela, mas que dessa vez sem o bendito “serenata de amor”.
- Pedrinho, chega nela... Ela tá te dando mole, bicho!- Disse Eduardo me dando força e eu concordei. Fui.
Na hora do recreio eu criei coragem, depois de ir ao banheiro e molhar o cabelo- realmente não sei por que a gente fazia isso, mas a gente fazia naquela época- molhei o cabelo e fui procurá-la no banco onde ela ficava sentada com as outras ingratas. Quando eu fui me aproximando às amigas dela foram se levantando e só ela ficou sentada. Era tudo ensaiado... Mulher adora fazer isso. A gente acha que é malandro, mas elas são bem melhores nisso! Sem dizer nada sentei do lado dela e fiquei caladinho e tremendo. Mas eu juro que não estava nervoso! Uns minutos depois ela disse:
- Quer me dizer alguma coisa, Pedro?
Eu, meio engasgado com tudo que queria dizer há pelo menos dois anos, falei:
- É... É que eu queria saber se você aceita um “serenata de amor”?!