O PRÓXIMO! - Uma Crônica Muito Longa.
Eu, por mim, sempre tive saúde de ferro.
Saí bem das ameaças fortuitas da vida. As doenças da infância, os resfriados, os riscos de acidentes, tudo tirei de letra.
Mas, só glória e alegria? Não, senhor. Nesse embate entre bem-estar e doença, ninguém passa por aqui e segue zombeteiro, livre da menor imolação.
Lá atrás, sim, tive meus dias periclitantes.
Era o meu pai quem me classificava de “molenga”, quando eu reclamava por qualquer dor. A dor punha-me a choramingar, sempre.
Dor de cabeça, vespertina, pulsátil, endoidecente.
Dor de coluna, queimada, rasgada, debilitante.
Mas não foi só.
Menino caminhando de sete para os dezoito anos, o martírio na acepção do termo deu-se pela insistência das nascidas. Inflamações pelo corpo, na pele, cada vez em quando - e sempre muito dolorosas. Lá, uns diziam tumores, outros davam nomes de abscessos, furúnculos. Uma vez, não compreendi porquê, minha avó corrigiu: “—Isso aí, Mistron, não é uma nascida; é um antraz.” Deu na bunda. Mas davam na virilha, no sovaco, na pálpebra, até no nariz. Tratamento era à base de banho quente, urina e fumo, e umas compressas canforadas. Folha de pimenta com azeite também era aplicada sobre o calombo, que virava um ponto amarelo e vazava.
A lembrança da avó, inclusive, termina aqui com os tumores. Quando ela morreu, eu tinha um abscesso no ouvido. Lancinante, fui ficando atordoado com aquele latejar dentro da cabeça. Chorava com a imensa dor. No velório, ficaram achando que era pela minha vó. Veio a furo na segunda noite: dormi chorando, acordei com o travesseiro enxarcado de pus.
As nascidas vêm e vão, deixam sequelas; as lembranças ficam associadas a vida toda. Sofrimento marcante.
Em razão delas, aos dezesseis anos tive de recorrer ao médico. Falavam de um dermatologista famoso, nome “turco”, especialista no assunto. Nos tempos do Inamps.
Fila de um quarteirão para obter a guia, foi-se a manhã. Mas, à tarde, consulta marcada para atender num consultório da rua Voluntários. Cheguei com tempo de juntar-me aos demais pacientes do doutor. Era um casarão velho no centro da cidade. Esperamos no alpendre, um grupo perto de vinte pessoas.
Duas horas mais tarde, todos amuados, cada qual com sua tristeza, começou o atendimento. As guias eram numeradas. A fila andou alinhada, cheia de entusiasmo. Veloz.
A consulta era muito prática. Médico chamava. Na vez de cada um, o paciente atravessava um salão de cadeiras vazias, entrava no consultório, porta aberta; voltava logo.
O alpendre, aqui na rua, dava visão para a sala de cadeiras vazias. Ali, ficavam os pacientes da manhã, os particulares. O consultóro aberto bem à nossa frente, era depois da sala de cadeiras vazias. Dava para ver o doutor chamando: vinha com a cabeça para fora e falava quase general:
— O próximo!
Minha vez. Entrei caminhando torto e manquitola. Apressado e aflito, temia não ter tempo para resumir o meu incômodo. Atravessei a ante-sala vazia, para a qual davam outros consultórios, fui avistando o doutor pela porta aberta. Calvo e sobrancelhas eriçadas, remexia papéis na mesa. De soslaio, olhou assim e perguntou:
— Qual o problema?
— Um furúnculo aqui na virilha, doutor – respondi ligeiro, ao passar pela porta.
— Deixa ver — ordenou o médico, providencial para que eu, sôfrego, dispensasse aquela cadeira à frente da mesa.
O negócio de mostrar o furúnculo me titubeou e deu pressa no doutor:
— Vai, me mostre o furúnculo!
Precisava arriar as calças. Naquela fração de segundo, constatei duas situações: primeira, deveria ter vestido bermuda para ir ao médico, mas fui numa calça jeans de cinturão afivelado; segunda, a dita sala era desprovida da devida porta.
— Ai, caramba! Se o povo chiar lá fora, já vou avisando: eu chamo o próximo!
Abaixei a calça. Achei que mostrava o abscesso, mas averiguei que só protegia a bunda.
— Não vejo nada. Abaixe a cueca.
Pingolinho aqui dentro, a bunda lá para fora, acabei mostrando tudo para quem não queria ver nada.
Do assento da cadeira, foi o tempo do doutor fazer com a cabeça para a direita, para a esquerda e a careca brilhar com a luz da janela. Um muxoxo, uma careta de sabido. Rabiscou a receita e, junto, foi mandando aplicar a pomada e tomar as drágeas. E retornar com os exames feitos.
No fundo, tão experiente, o médico sabia que eu argumentaria quanto fiz tratamentos sem qualquer efeito. Ia abrir a boca, essa pomada já usei, esse comprimido já tomei, no entanto...
O doutor espichou o pescoço sobre a mesa, quase num esforço de girafa, trazendo até a porta a cabeça pelada e se fazendo ouvir com um grito general:
— O próximo!
Saí dali incrédulo.
Os abscessos e os furúnculos, a tumorada inteira, tudo veio a renque sobre mim; brotaram no corpo pelas partes mais inconvenientes, e as crises coincidiam com ocasiões inoportunas. Na axila: formatura do tio. Na coxa direita: vestibular. Abscesso no nariz: estágio num hospital. Por aí afora.
Chegou ao extremo. Quem não ouviu falar do abscesso perianal?
A primeira crise marcou história. Primeiro foi a ignorância: bastou a dorzinha surda, pulsátil, distante, já era um treco doendo no ponto mais crítico dos moços. Ninguém saberá, ninguém verá, ninguém mexerá. Depois, foi a ignorância em dobro: tentativa de solucionar em casa. Nossa gente acha que tudo ali é hemorróida. Banho quente. Uma pomada de gaveta. Travesseiro para afofar a cadeira... Esse povo experiente, antepassado, conhece essas medidas alternativas: passa de mão em mão, segue indicando a parafernália terapêutica. Não cura.
Comecei a azangar. Febre alta. Urina presa. Sem evacuar. Prisão de ventre. Cinco dias de chá com bolacha. Bateu a fraqueza, a dor passou do limite. Nem podia andar, fui me consumindo.
Dez da noite, horário abominável, o caso foi parar num plantão do hospital. Feita a ficha de consulta, a fila de espera no pronto-socorro já vinha desse tempo. Depois, meus pais ficaram na recepção, segui levado por uma assistente, mandou ficar de quatro, posição ofensiva. O médico chegou, boa-noite, pôs luvas, toque retal.
Os gravetos, os estrepes, as pedras, caco de vidro, fisga, faca, facão, que mais para comparar?
Dedo de médico. E berrei descontrolado.
— Que escândalo, rapaz! Chiu!
Não era para gritar. Perto da meia-noite, o hospital prefere o silêncio. Tosse, pingo de chuveiro, gemido, som de ventilador, flato, maçaneta de porta, ranzinza de neném, só isso pode fazer ruído. Barulho muito pouco. Até a enfermagem murmura com o médico ao telefone. Quase assopra na orelha do médico, do outro lado da linha: "socorro para acalmar o operado do 21". Os acompanhantes também cochicham os números para as enfermeiras do noturno, informando alterações do plantão: paciente do 7, bebê do 13... Diálogo bastante sintético, a favor do silêncio perto da meia-noite.
Gritei com a força da goela no matador, o médico procurando entender a natureza daquele abscesso: o sítio, o volume, a forma, a consistência, a sensibilidade... Tudo com a devida exatidão tátil.
Com os gritos, vieram uns três ou quatro jovens da minha idade, mais ou menos. Vestiam branco. Lógico, acreditei que era reforço, a fim de parar o meu infortúnio, cuidar do silêncio hospitalar.
Olhei assim para tráz, estavam em fila cordial lá entre eles. O doutor falou uma coisa com eles, voz apertada, e logo verifiquei que eram estagiários do doutor-chefe. Dava ensinamentos sobre os abscessos anais. Primeiro, a demonstração do próprio doutor, cujo dedo foi ali tudo outra vez, mas agora para demonstrar.
Não vou agüentar, eu pensei. É tortura. Não vou aguentar. É cruel. Não vou agentar, eu berrei.
A jovem doutora ficou bastante constrangida com a aula prática. O professor cuidou de abrandar.
— Calma, calma! É apenas exame. Sem escândalo.
Consentiu para a aluna examinar o abscesso, descrever o achado. Admitiu menor prejuízo, porque era mulher.
— Primeiro você. Dedo de moça, sabe como é?...
Os demais, os estagiários homens — eu disse antes que eram três? —, eles tocaram o abscesso, descreveram forma, volume, consistência, grau de evolução, tudo mais. No rodízio entre eles, aguardavam o professor autorizar:
— O próximo.
O plantão foi muito útil.
Certo que os berros no pronto-socorro não contribuíram nem para o interlóquio aqui na aula, nem para o sono dos pacientes do 5, do 8, do 18, do 88... Lá fora, meus pais, pobres coitados, tinham certeza que eu ia sofrer muito na mão daquela gente.
A orgia findou no centro-cirúrgico. Drenagem sob raqueanestesia. Sedado, depois extasiado, dormi dois dias. Mantive-me propenso a reverenciar o costume dessa gente vestida de branco, que bisbilhota, toca, aperta, invade...
Ciência e Arte, dogmas com alta dosagem de solução. Não apenas por isso, mas por muito, e muito, sou grato à Medicina e aos que vivem em função dessa nobreza.
Meu caso dos abscessos foi solucionado.
Voltei à condição de sadio. Nessa idade, faço os exames, sempre normal, fico devendo nos valores nunca alterados.
Se é para me envolver na história, bato no peito e falo graúdo: minha saúde é de ferro.
* Crônica integrante do livro "O Próximo!".
Eu, por mim, sempre tive saúde de ferro.
Saí bem das ameaças fortuitas da vida. As doenças da infância, os resfriados, os riscos de acidentes, tudo tirei de letra.
Mas, só glória e alegria? Não, senhor. Nesse embate entre bem-estar e doença, ninguém passa por aqui e segue zombeteiro, livre da menor imolação.
Lá atrás, sim, tive meus dias periclitantes.
Era o meu pai quem me classificava de “molenga”, quando eu reclamava por qualquer dor. A dor punha-me a choramingar, sempre.
Dor de cabeça, vespertina, pulsátil, endoidecente.
Dor de coluna, queimada, rasgada, debilitante.
Mas não foi só.
Menino caminhando de sete para os dezoito anos, o martírio na acepção do termo deu-se pela insistência das nascidas. Inflamações pelo corpo, na pele, cada vez em quando - e sempre muito dolorosas. Lá, uns diziam tumores, outros davam nomes de abscessos, furúnculos. Uma vez, não compreendi porquê, minha avó corrigiu: “—Isso aí, Mistron, não é uma nascida; é um antraz.” Deu na bunda. Mas davam na virilha, no sovaco, na pálpebra, até no nariz. Tratamento era à base de banho quente, urina e fumo, e umas compressas canforadas. Folha de pimenta com azeite também era aplicada sobre o calombo, que virava um ponto amarelo e vazava.
A lembrança da avó, inclusive, termina aqui com os tumores. Quando ela morreu, eu tinha um abscesso no ouvido. Lancinante, fui ficando atordoado com aquele latejar dentro da cabeça. Chorava com a imensa dor. No velório, ficaram achando que era pela minha vó. Veio a furo na segunda noite: dormi chorando, acordei com o travesseiro enxarcado de pus.
As nascidas vêm e vão, deixam sequelas; as lembranças ficam associadas a vida toda. Sofrimento marcante.
Em razão delas, aos dezesseis anos tive de recorrer ao médico. Falavam de um dermatologista famoso, nome “turco”, especialista no assunto. Nos tempos do Inamps.
Fila de um quarteirão para obter a guia, foi-se a manhã. Mas, à tarde, consulta marcada para atender num consultório da rua Voluntários. Cheguei com tempo de juntar-me aos demais pacientes do doutor. Era um casarão velho no centro da cidade. Esperamos no alpendre, um grupo perto de vinte pessoas.
Duas horas mais tarde, todos amuados, cada qual com sua tristeza, começou o atendimento. As guias eram numeradas. A fila andou alinhada, cheia de entusiasmo. Veloz.
A consulta era muito prática. Médico chamava. Na vez de cada um, o paciente atravessava um salão de cadeiras vazias, entrava no consultório, porta aberta; voltava logo.
O alpendre, aqui na rua, dava visão para a sala de cadeiras vazias. Ali, ficavam os pacientes da manhã, os particulares. O consultóro aberto bem à nossa frente, era depois da sala de cadeiras vazias. Dava para ver o doutor chamando: vinha com a cabeça para fora e falava quase general:
— O próximo!
Minha vez. Entrei caminhando torto e manquitola. Apressado e aflito, temia não ter tempo para resumir o meu incômodo. Atravessei a ante-sala vazia, para a qual davam outros consultórios, fui avistando o doutor pela porta aberta. Calvo e sobrancelhas eriçadas, remexia papéis na mesa. De soslaio, olhou assim e perguntou:
— Qual o problema?
— Um furúnculo aqui na virilha, doutor – respondi ligeiro, ao passar pela porta.
— Deixa ver — ordenou o médico, providencial para que eu, sôfrego, dispensasse aquela cadeira à frente da mesa.
O negócio de mostrar o furúnculo me titubeou e deu pressa no doutor:
— Vai, me mostre o furúnculo!
Precisava arriar as calças. Naquela fração de segundo, constatei duas situações: primeira, deveria ter vestido bermuda para ir ao médico, mas fui numa calça jeans de cinturão afivelado; segunda, a dita sala era desprovida da devida porta.
— Ai, caramba! Se o povo chiar lá fora, já vou avisando: eu chamo o próximo!
Abaixei a calça. Achei que mostrava o abscesso, mas averiguei que só protegia a bunda.
— Não vejo nada. Abaixe a cueca.
Pingolinho aqui dentro, a bunda lá para fora, acabei mostrando tudo para quem não queria ver nada.
Do assento da cadeira, foi o tempo do doutor fazer com a cabeça para a direita, para a esquerda e a careca brilhar com a luz da janela. Um muxoxo, uma careta de sabido. Rabiscou a receita e, junto, foi mandando aplicar a pomada e tomar as drágeas. E retornar com os exames feitos.
No fundo, tão experiente, o médico sabia que eu argumentaria quanto fiz tratamentos sem qualquer efeito. Ia abrir a boca, essa pomada já usei, esse comprimido já tomei, no entanto...
O doutor espichou o pescoço sobre a mesa, quase num esforço de girafa, trazendo até a porta a cabeça pelada e se fazendo ouvir com um grito general:
— O próximo!
Saí dali incrédulo.
Os abscessos e os furúnculos, a tumorada inteira, tudo veio a renque sobre mim; brotaram no corpo pelas partes mais inconvenientes, e as crises coincidiam com ocasiões inoportunas. Na axila: formatura do tio. Na coxa direita: vestibular. Abscesso no nariz: estágio num hospital. Por aí afora.
Chegou ao extremo. Quem não ouviu falar do abscesso perianal?
A primeira crise marcou história. Primeiro foi a ignorância: bastou a dorzinha surda, pulsátil, distante, já era um treco doendo no ponto mais crítico dos moços. Ninguém saberá, ninguém verá, ninguém mexerá. Depois, foi a ignorância em dobro: tentativa de solucionar em casa. Nossa gente acha que tudo ali é hemorróida. Banho quente. Uma pomada de gaveta. Travesseiro para afofar a cadeira... Esse povo experiente, antepassado, conhece essas medidas alternativas: passa de mão em mão, segue indicando a parafernália terapêutica. Não cura.
Comecei a azangar. Febre alta. Urina presa. Sem evacuar. Prisão de ventre. Cinco dias de chá com bolacha. Bateu a fraqueza, a dor passou do limite. Nem podia andar, fui me consumindo.
Dez da noite, horário abominável, o caso foi parar num plantão do hospital. Feita a ficha de consulta, a fila de espera no pronto-socorro já vinha desse tempo. Depois, meus pais ficaram na recepção, segui levado por uma assistente, mandou ficar de quatro, posição ofensiva. O médico chegou, boa-noite, pôs luvas, toque retal.
Os gravetos, os estrepes, as pedras, caco de vidro, fisga, faca, facão, que mais para comparar?
Dedo de médico. E berrei descontrolado.
— Que escândalo, rapaz! Chiu!
Não era para gritar. Perto da meia-noite, o hospital prefere o silêncio. Tosse, pingo de chuveiro, gemido, som de ventilador, flato, maçaneta de porta, ranzinza de neném, só isso pode fazer ruído. Barulho muito pouco. Até a enfermagem murmura com o médico ao telefone. Quase assopra na orelha do médico, do outro lado da linha: "socorro para acalmar o operado do 21". Os acompanhantes também cochicham os números para as enfermeiras do noturno, informando alterações do plantão: paciente do 7, bebê do 13... Diálogo bastante sintético, a favor do silêncio perto da meia-noite.
Gritei com a força da goela no matador, o médico procurando entender a natureza daquele abscesso: o sítio, o volume, a forma, a consistência, a sensibilidade... Tudo com a devida exatidão tátil.
Com os gritos, vieram uns três ou quatro jovens da minha idade, mais ou menos. Vestiam branco. Lógico, acreditei que era reforço, a fim de parar o meu infortúnio, cuidar do silêncio hospitalar.
Olhei assim para tráz, estavam em fila cordial lá entre eles. O doutor falou uma coisa com eles, voz apertada, e logo verifiquei que eram estagiários do doutor-chefe. Dava ensinamentos sobre os abscessos anais. Primeiro, a demonstração do próprio doutor, cujo dedo foi ali tudo outra vez, mas agora para demonstrar.
Não vou agüentar, eu pensei. É tortura. Não vou aguentar. É cruel. Não vou agentar, eu berrei.
A jovem doutora ficou bastante constrangida com a aula prática. O professor cuidou de abrandar.
— Calma, calma! É apenas exame. Sem escândalo.
Consentiu para a aluna examinar o abscesso, descrever o achado. Admitiu menor prejuízo, porque era mulher.
— Primeiro você. Dedo de moça, sabe como é?...
Os demais, os estagiários homens — eu disse antes que eram três? —, eles tocaram o abscesso, descreveram forma, volume, consistência, grau de evolução, tudo mais. No rodízio entre eles, aguardavam o professor autorizar:
— O próximo.
O plantão foi muito útil.
Certo que os berros no pronto-socorro não contribuíram nem para o interlóquio aqui na aula, nem para o sono dos pacientes do 5, do 8, do 18, do 88... Lá fora, meus pais, pobres coitados, tinham certeza que eu ia sofrer muito na mão daquela gente.
A orgia findou no centro-cirúrgico. Drenagem sob raqueanestesia. Sedado, depois extasiado, dormi dois dias. Mantive-me propenso a reverenciar o costume dessa gente vestida de branco, que bisbilhota, toca, aperta, invade...
Ciência e Arte, dogmas com alta dosagem de solução. Não apenas por isso, mas por muito, e muito, sou grato à Medicina e aos que vivem em função dessa nobreza.
Meu caso dos abscessos foi solucionado.
Voltei à condição de sadio. Nessa idade, faço os exames, sempre normal, fico devendo nos valores nunca alterados.
Se é para me envolver na história, bato no peito e falo graúdo: minha saúde é de ferro.
* Crônica integrante do livro "O Próximo!".