Saudade, todo mundo sabe o que é

Pensando bem, realidade dura que seja, algumas pessoas realmente passam pela vida sem experimentar um amor de novela ou construir sólidas amizades. E em qualquer canto do planeta há também os que digam não saber o que é ódio, inveja ou felicidade. No entanto, acredito não caber exceção nisso: todo mundo conhece a saudade.

Muitos poetas já descreveram esse aperto que dá no coração quando algo bom deixa de estar com a gente. Uma sensação que afeta até quem pratica o desapego porque, ainda que não exista a necessidade de ter de volta o que se perdeu, é difícil ignorar o momento em que certas lembranças visitam nosso pensamento.

Essa primeira forma de saudade, desapegada, é a que te impulsiona a narrar memórias com brilho nos olhos e um sorriso bobo no rosto. Causa palpitações, mas não dói, pois a moral da história é que foi ótimo enquanto durou, sem uma voz desesperada por dentro querendo te convencer que apenas lá era possível ser feliz.

Quando a saudade faz descaso do presente é que a sensação é perigosa. Quem se descuida, acaba empacando nos “ontens” – lá, onde você já sabe que teve finais felizes. É isso que deixa o agora em desvantagem: não há garantias de remédio para suas atuais dores de cabeça. Mas o povo esquece que a memória é seletiva, e enfeita os velhos tempos porque deleta grande parte dos perrengues e registra antigos obstáculos como se não fossem tão difíceis quanto os que enfrentamos hoje.

Falando em problema, há que se mencionar a saudade dos arrependidos. Quando as lembranças te empurram a querer uma máquina do tempo para consertar sei lá o quê. É um aperto no coração que amarga e rejeita os bons frutos que nasceram após o erro, uma vez que ilude com a impressão de que não ter errado é o que transformaria sua vida em algo muito melhor.

Por fim, existe a famosa saudade que a distância traz. Um desconforto que telefone, e-mail e vídeo até amansam, mas não curam, pois o que faz falta é o abraço, o cheiro, a convivência. É o que te deixa impaciente com os longos dias, implorando para os segundos acelerarem. Causa um vazio chato, sem consolo, já que tem coisa que nada no mundo substitui. Nessas horas, não adianta amar morango se, agora, tudo o que você queria era um abacaxi.

Saudade é inevitável, ninguém consegue fugir. É ela que impulsiona pessoas a contar suas melhores histórias, revisitar o passado, valorizar o que se ama. Saudade idolatra o que não está mais com a gente, porque forçosamente só fala de boas lembranças. E quem não rejeita esse sentimento, aprende com ele que é possível colecionar eternidades dentro de si, mesmo quando os momentos não duram para sempre.