Como um marinheiro sem estrelas, como um pássaro sem primavera...
Eu era como aquele passarinho que mesmo tendo aprendido a voar, sempre voltava para o ninho. Mas o meu ninho, o meu porto-seguro, o meu farol, não existe mais.
Mas como isso pode acontecer? Sempre, quando precisei, estava lá. Firme e forte como tantas outras ocasiões. E agora? Substituí-lo é impossível, então o que fazer? Reaprender a viver? Tentar guardar a dor em um lugarzinho trancado, e só acessá-la quando não houver outra saída?
Nenhuma das soluções parece funcionar, quando se sente como uma bússola quebrada, que roda, roda a procura de um norte, mas nunca o encontra. Como um relógio que ainda faz tic-tac, mas perdeu seus ponteiros . Como um marinheiro sem estrelas, como um pássaro, sem primavera.
Tenho me sentido assim, desde que meu “ninhozinho” se foi! E hoje, sei que tantos compartilham de tal sentimento. Uns mais que outros, pois cada um lida de uma forma diferente. Mas a verdade é que só sabe o que é, quem já teve uma mãe como eu tive.
Se eu estava com fome, lá encontrava sempre a mesa farta.
Se a angústia me assolasse, encontrava conforto.
Se precisasse conversar, desabafar, estava sempre disposta a me ouvir.
Quando eu aparecia com frio, sempre tinha um agasalho de sobra para me oferecer.
Quando eu estava triste, chorávamos juntas e depois sempre acabávamos rindo da maneira de como lidávamos com as adversidades da vida..
Se estivesse alegre, me fazia ainda mais, porque era sensacional rirmos juntas.
Se eu parecesse cansada, sempre oferecia um colinho, um ombro para me encostar.
Era ela que sabia o remédio certo para minhas dores.
Quando a carência aparecia, era só dividir o mesmo sofá que ela, entrelaçar nossas mãos e ficar em silêncio, que eu me sentia a pessoa mais amada, mais protegida do mundo.
E os conselhos? Sempre com as melhores intenções, já viu intenção de mãe ser ruim? Ah...se não os seguisse. Primeiro vinha o famoso “Eu avisei!”, Depois as broncas! Até delas sinto falta!
Ralhava como se eu tivesse cinco anos de idade! Agora, que sou mãe entendo um pouco isso. Em alguns aspectos os filhos nunca crescem.
Foi o primeiro finados sem minha mãe! Há cinco meses ela foi embora...
A senhora, mamãe, todo meu amor, meu carinho e toda a minha saudade! Minha e de seus outros passarinhos!