Alunos da USP: um retrato de nossa época
Dizem que as pessoas de minha geração são saudosistas, vivem a lamentar a ida de décadas melhores que a atual. Em mim, esse saudosismo só existia nos campos da música e da literatura. Mas um acontecimento recente fez aumentar em mim a dose de nostalgia: vi alunos da USP protestando.
Na década de sessenta os estudantes protestavam contra a ditadura e o imperialismo, na década de oitenta foram às ruas pedir as diretas já. E dessa vez qual era o motivo do protesto? Protestavam contra a corrupção? Pediam a saída do Sarney? Melhoria na educação? Nada disso. Alguns estudantes foram pegos usando maconha e levados para a delegacia, por isso, houve protestos contra a presença da polícia dentro do campus. Ora, se não houvesse polícia no campus poderíamos usar drogas tranquilamente, quem esses policiais pensam que são? Prenderem os filhos da classe média? Que audácia!
Um olhar superficial veria no movimento jovens revolucionários lutando por direitos, um olhar mais atento vê jovens reacionários reivindicando privilégios abalizados pelo seu prestígio social. Um paradoxo.
Confesso que me entristeci muito, mas não porque vi jovens amotinados reivindicando o direito de se drogarem. Fico consternado porque esses jovens são o retrato de nossa sociedade. Parece que em nenhuma esfera dessa sociedade existe um discurso de mudança. Estamos vencidos pelo capital, conformados com nosso papel de sujeitos consumidores, rendidos à cultura empresarial. Um protesto hoje só poderia ser por uma causa fútil. Ouvi de um apresentador da MTV uma frase conveniente: “Protestar é coisa dos anos noventa”. Muito pertinente. Vivemos o auge de nosso sonho idílico. Não há mais causas por que protestar.
Eu ainda era criança quando os caras pintadas saíram às ruas, mas como sinto saudade daquela rebeldia juvenil. Que me seja permitido ser saudosista. Quem dera eu pudesse repetir aquelas palavras de Elis Regina: ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.